segunda-feira, 2 de setembro de 2019

COMUNICAÇÃO SOCIAL

Respeitem o partido
Por Fernando Teixeira

O Partido de Álvaro Cunhal, de Domingos Abrantes, Saramago, mas também de muitos milhares de portugueses merece mais respeito por parte de quem, mesmo discordando, tem a obrigação de proporcionar a todas as forças políticas a possibilidade de chegar a todos os que os queiram ouvir.

É do Partido Comunista que falo, contudo, já há muito tempo que me habituei a tratá-lo por tu. Simplesmente por Partido. Para muitos milhares de portugueses de hoje e outros tantos de ontem o PCP é o Partido, o Partido que é seu. É também o meu partido. O PCP e os seus militantes tratam-se por tu, são indissociáveis. Este partido que o povo português conhece tão bem, luta há praticamente 100 anos pela democracia, pelo progresso e futuro do país. Nenhum outro partido teve tantos presos políticos, mortos e estropiados em prol da liberdade. Travou durante quatro décadas obscuras uma luta heróica pelo fim da ditadura e, principalmente, pela prossecução deste sonho milenar de uma sociedade onde não haja lugar à exploração do ser humano sobre o ser humano.

“O modelo de debates para as eleições legislativas é só mais um capítulo da sistemática menorização do PCP em relação a todos os outros partidos. Enquanto os mesmos de sempre têm direito a campanhas e debates em antena aberta, em directo e em simultâneo em todos os canais generalistas, para o PCP sobram pequenos debates na televisão por cabo. ”
É a este partido que a comunicação social rejeita o acesso e a palavra. O modelo de debates para as eleições legislativas é só mais um capítulo da sistemática menorização do PCP em relação a todos os outros partidos. Enquanto os mesmos de sempre têm direito a campanhas e debates em antena aberta, em directo e em simultâneo em todos os canais generalistas, para o PCP sobram pequenos debates na televisão por cabo. Perpetua-se o sistema de dualidade partidária que há décadas governa o país. Eterniza-se o direito natural a certos partidos de dominarem a agenda pública e mediática. Desengane-se quem ache que o único prejudicado por este sistema é o PCP, antes o é a democracia que vive de enganos e falácias num esforço conjunto de manter sempre os mesmos no poder. Recentemente foi noticiado um evento promovido pela Comissão Europeia Monsaraz para discutir a União Europeia (UE). Foram convidados 70 oradores de todos os quadrantes políticos, desde o PAN até ao PSD, excepção feita ao PCP e também ao PEV que não foram incluídos na lista de convidados. A discussão sobre a UE feita num só sentido não é uma discussão mas um monólogo.

Em 2015, o PCP abriu caminho para uma nova solução política, uma solução que livrasse o país dos cortes da “troika”, das privatizações do PSD e das renúncias irrevogáveis do CDS. Na noite eleitoral de 2015, o PCP apontou o caminho, assumindo todas as responsabilidades que um partido com o seu peso e implantação tem para colorir um país que havia vivido muitos anos a preto e branco. Nunca nos perdoaram.

A vida que nunca foi fácil para o partido conheceu como nunca a desinformação, as mistificações, o preconceito e a raiva. Exige-se respeito para com um partido que mais não faz do que lutar pela melhoria das condições de vida do povo, pelo progresso justo da sociedade. Por proposta do PCP foi possível dar o direito a manuais gratuitos a todas as crianças do país, houve aumento extraordinário das pensões e reformas, bem como a subida do salário mínimo e se mais não foi possível conquistar não foi por falta à chamada do PCP. Mesmo assim, os únicos momentos em que o PCP é lembrado nas aberturas dos telejornais são aqueles em que uns aproveitam para difamar, insultar e insinuar. O partido de Álvaro Cunhal, de Domingos Abrantes, Saramago, mas também de muitos milhares de portugueses merece mais respeito por parte de quem, mesmo discordando, tem a obrigação de proporcionar a todas as forças políticas a possibilidade de chegar a todos os que os queiram ouvir.

Tudo o que não puder ser dito em debates com honras de horário nobre sê-lo-á às portas das fábricas, empresas e serviços, campos e lezírias, à porta das escolas e universidades, lá onde o povo trabalhador luta pelo direito a uma vida de direitos. Aliás, o partido nunca abandonou o seu lugar junto da sua classe e com o orgulho de travar uma batalha de inúmeras frentes com a certeza da justeza dos seus ideais. Que não haja nenhuma dúvida, a luta de classes existe e estamos a lutar para ganhar.

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