domingo, 6 de fevereiro de 2022

VASCO GONÇALVES

VASCO GONÇALVES - 100 ANOS

Nasceu no dia 3 de Maio de 1921. Faz 100 anos.

Há uns tempos escrevi este texto para ser integrado num livro sobre o “nosso” general.

A fechar este dia não vejo razão para retirar ou juntar qualquer palavra ao texto que então escrevi.

Leiam e digam alguma coisa…

Por Samuel Quedas

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Vasco Gonçalves – Reconhecer os sinais!

Não podemos somar bondade aos homens bons. Não podemos acrescentar coragem aos heróis. Não podemos somar mais dor às prisões e torturas sofridas por Mandela ou Cunhal. Não podemos somar bravura desinteressada a um Salgueiro Maia.

Não podemos, não porque nos falte a boa-vontade… mas sim por falta de talento, ou de valor.

Vasco Gonçalves pertence a essa galeria de seres humanos a cujos nomes já nada se pode acrescentar. Porque já foram inventados todos os insultos que era possível ele ter sofrido… da mesma forma que, do outro lado da barricada, nos faltam as palavras para mais e melhor o honrarmos.

Vasco Gonçalves é hoje, como era então, uma luz que não é possível agarrar. Um estado de espírito. Uma porta para chegar ao amanhã. Uma ideia motora.

Naquele tempo, de repente, estivéssemos numa cooperativa do Alentejo, numa fábrica do Barreiro ou da Marinha Grande, ou num barco de pesca dos Açores, tínhamos em comum, para além da luta, das canções e dos sonhos... um mesmo companheiro. Um nome para dizer em coro. Um companheiro que grudava a nossa diversidade e forjava toda a unidade. De cada vez que se cantou “força, força, companheiro Vasco”, foi quem cantou que ficou mais forte. Infelizmente, não o suficiente.

Durante um curto espaço no tempo, vislumbrámos a forma real da “utopia”. Conseguimos colocar legendas nos nossos sonhos. Conseguimos demonstrar que as utopias são apenas projectos por concretizar. Quase conseguimos ver a forma e sentir o sabor do futuro. 

Pela primeira vez em muitas décadas, adormecíamos com a profunda convicção de que o dia seguinte ia ser melhor. Com vontade de acordar para esse dia. Com vontade de participar na sua construção e orgulho nas marcas que as nossas mão iam deixando. Com vontade de fazer filhos que o vivessem. Tal era o efeito de ter no poder, pela primeira vez nas nossas vidas, um dos nossos. Um companheiro. Um amigo. Um camarada.

Não fomos, então, como cantando prometíamos... uma “muralha de aço”. Estamos a pagar bem caro por isso! Saibamos agora ser a casa onde se guarde, carinhosamente, a sua memória e o seu exemplo. Para não esquecer e, sobretudo, para nos mantermos familiarizados com os sinais que distinguem estes raros homens bons. Para, sempre que a nossa História colectiva se cruzar com mais um deles, não desperdiçarmos a oportunidade de lhes dar, sem reserva, as nossas mãos e fazermos com eles o caminho para o futuro.

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