domingo, 8 de fevereiro de 2015

DESMISTIFICAÇÕES

«REFUTANDO E DESMASCARANDO O SEGUINTE POST da página Anarcomiguxos III
Por Nathan Palmares


1 – Essa primeira imagem, vamos começar analisando a foto de fundo, que provém de uma propaganda nazista que diz o seguinte: “Você quer que isso aconteça às suas mulheres e crianças? Defend-se com todas as medidas contra o bolchevismo", ou seja, nada mais nada menos que mais uma propaganda anti-comunista que visava justificar a invasão da URSS.
Agora sobre os dados em si, é sabido inclusive pelos soviéticos que muitos soldados estupraram, e sim foram punidos. Aliás, não só na URSS, como na China e Cuba estupro tinham penas severas, em muitos casos chegando a pena de morte. O Exército Vermelho tinha um grande número de mulheres nas suas fileiras, muitas delas comandantes, quando ocorriam casos de estupro o soldado poderia ser justiçado ali no local mesmo. Dizer que ocorreram 2 milhões de estupros é partir pro sensacionalismo barato para falsificar a história, não passa simplesmente de reprodução de propaganda anti-comunista.

2 – A homossexualidade era considerada doença no mundo inteiro, só que de repente segundo essa postagem, passou a ser uma ‘doença mental’ depois do governo de Mao Tse-Tsung. Aliás politicamente isso é até meio absurdo, tendo em vista o cargo político do Mao na China, onde esse tipo de assunto não era de sua responsabilidade. É muito curioso dizer isso, sendo que a comunidade LGBT foi parte ativa durante a revolução cultural e conseguiram revogar várias questões, inclusive de cunho moral que o velho Império carregava, onde homossexuais eram vistos como criminosos. Angela Davis, bissexual e militante ativa do movimento LGBT era maoista. O primeiro casamento homossexual na história foi feito em um território controlado pelo NEP (Novo Exército do Povo) das Filipinas que também é maoista. Inclusive o NEP tem um programa extensivo de inserção das pessoas trans dentro da sociedade.

3 - Essa aqui é sem dúvidas umas das mais desonestas. Esse discurso de família tradicional nunca fez parte da rotina política de Stálin, quem já leu os textos do mesmo sobre a moral revolucionária e a construção da nova sociedade pode presenciar isso. Na década de 30 a URSS passava a construir o que viria a ser, a Constituição mais avançada do mundo por um bom tempo (famosa por transformar o racismo em crime). Junto com a nova Constituição vinham uma série de medidas em torno da qualidade de vida do povo soviético. Quando o aborto foi legalizado no começo da década de 20, a Kollontai (quem dirigiu o processo) assumiu que era o mais acertado a se fazer, tendo em vista as condições das mulheres no país (que estava em transição do Império russo), e por isso não tinham condições mínimas pra se tornarem mães. Já em 1930 com uma melhor infraestrutura houve amplo debate, e a proposta que passou (defendida pela Kollontai) foi de aumentar as maternidades, creches e condições específicas da mulher no trabalho, para que as mesmas pudessem ter filhos em condições melhores. Sendo assim decidiu-se também limitar o aborto a diversos casos, porém, o mesmo continuava da mesma maneira para as mulheres que ainda não tinham a infraestrutura necessária para que pudesse ser mãe. Foi um debate de 6 anos, e a decisão final foi tomada pelo Comissariado de Direitos do Povo, que era dirigido por Kalinin. Ou seja, Stálin tem nenhuma ligação com isso, nenhuma. Vale-se lembrar de que durante o governo Stálin, 60% do Soviet Supremo era composto por mulheres.

4 – Os comunistas sempre defenderam abertamente a ditadura do proletariado e a utilização da violência revolucionária contra a burguesia, talvez por isso a burguesia insista tanto em choramingar que o socialismo é autoritário. Mas enfim, analisando concretamente os fatos podemos fazer alguns apontamentos. Chiang Ching era ao lado do Mao Tse-Tsung uma das dirigentes mais avançadas do partido, a mesma assumiria o cargo de secretário-geral do PCCh pós-Mao porém foi presa. Já citamos anteriormente sobre as mulheres serem 60% da direção máxima do PCUS. Podemos lembrar que atualmente na Coreia Popular, Ryu Mi-yong ocupa cargo equivalente a de primeiro-ministro nos países que adotam esse sistema. Poderia dizer aqui que a direção da Guerra Popular Prolongada da Índia é composta majoritariamente por mulheres, ou então sobre a direção do PKK estar no mesmo rumo.

Considerações finais:

O patriarcado é uma estrutura da sociedade de classes (bem mais antigo que o capitalismo), nós comunistas quando lutamos pela construção de uma nova sociedade, também estamos lutando contra o patriarcado.

Sem dúvidas o machismo existe nas fileiras revolucionárias, pois, o partido sendo parte integrante da sociedade, também apresenta em seu seio as contradições existentes na mesma. Sabemos que para mulher militante a rotina é muito mais dolorosa e a caminhada mais difícil, e que as mesmas devem ser escutadas e terem sua autonomia para construírem seus espaços.

Sabemos também que o fim do capitalismo por si só não acabará com machismo, e que se não tiver uma luta constante para destruí-lo, a sociedade sem classes será uma realidade cada vez mais distante, pois, sem a libertação efetiva da mulher não existe a libertação da sociedade.

O que rejeitamos categoricamente é mentira e desinformação, que visem reforçar o sentimento anti-comunista inclusive nos seios militantes. O socialismo até hoje, dentro das suas limitações, foi o sistema que mais avançou em torno da questão da mulher e que tende avançar cada vez mais, basta observar o rumo das revoluções em curso no mundo como no Curdistão, na Índia e nas Filipinas.

Críticas quando são feitas de forma honesta serão sempre bem-vindas, agora qualquer uma que envolva até imagem nazista para criticar o comunismo, não passa de desonestidade.

Fontes:

Sobre o aborto:
Everyday Stalinism - Sheila Fritzpatrick
A mulher, o Estado e a revolução - Wendy Goldman

Sobre a questão da direção feminina:
https://www.marxists.org/reference/archive/stalin/works/subject/women/cccp.htm
https://mfprio.wordpress.com/2014/11/05/india-o-papel-das-mulheres-na-direcao-da-guerra-popular-cresce-a-passos-gigantes/
http://grandedazibao.blogspot.com.br/2012/03/quando-os-revisionistas-tentam-omitir.html
http://monthlyreview.org/commentary/womens-leadership-and-the-revolution-in-nepal/
https://blackfeministmind.files.wordpress.com/2009/03/claudiajones.pdf
http://www.paginavermelha.org/noticias/101018-a-revolucao-cultural-desconhecida.htm
http://www.paginavermelha.org/noticias/090309-metade-do-ceu.htm
http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/4300-o-papel-das-mulheres-curdas
http://www.pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6557%3Amulheres-do-pkk-libertar-nos-como-mulheres-para-libertar-a-sociedade&catid=84%3Asolidariedade
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/32720/25+verdades+para+yoani+sanchez+sobre+o+papel+da+mulher+em+cuba.shtml

Sobre a homossexualidade:
http://www.philippinerevolution.net/publications/ang_bayan/20140621/gays-and-lesbians-in-the-revolutionary-movement
https://www.marxists.org/subject/women/authors/davis-angela/housework.htm
https://marxistleninist.wordpress.com/2010/05/16/cubans-march-against-homophobia/
https://marxistleninist.wordpress.com/2010/09/02/fidel-castro-self-criticism-for-cubas-past-anti-lgbtq-oppression/

Sobre estupro, punições, estrutura política e jurídica da URSS:
http://guiademoscu.blogspot.com.br/2013/01/como-violamos-15-millones-de-alemanas.html
http://www.hist-socialismo.com/
O poder soviético - Hewlett Johnson»

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