terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

MILITARES DISSIDENTES

«Militares dissidentes de Israel enfrentam lei e se recusam a ocupar Palestina
Ana Garralda | El Diario | Jerusalém - 21/10/2014 - 06h00
Em movimento surgido há mais de 30 anos, oficiais do Exército israelense que se opõem à ocupação nos territórios palestinos desafiam lei que prevê até três anos de prisão a objetores de consciência

Aos 38 anos, Avner Wishnitzer é um “refusenik”, palavra de origem russa adaptada ao hebraico que designa objetores de consciência em Israel. Cofundador e membro ativo do movimento Combatentes pela Paz, Wishnitzer fez o serviço militar obrigatório (que dura três anos para os homens e dois anos para as mulheres) e foi incorporado a uma das unidades de elite das Forças Armadas israelenses, na qual passou depois para reservista. Porém alguma coisa mudou para ele em 2004, durante a fase mais sangrenta da segunda Intifada palestina.
Foi quando decidiu assinar junto com um grupo de companheiros uma carta pública dirigida ao então primeiro-ministro, Ariel Sharon, na qual eles se negaram a continuar servindo nos territórios ocupados. “Não sou contra entrar no Exército, creio que seja uma instituição necessária, mas me oponho a continuar ocupando um território que não nos pertence”, pontua Wishnitzer no bairro Beit Hakerem de Jerusalém.
O Estado de Israel não reconhece o direito de objeção de consciência por motivos políticos – quem o faz costuma acabar preso – e apenas exime do serviço militar a população de origem árabe que consiga comprovar problemas de saúde. Até o começo deste ano, também estavam isentos os estudantes ortodoxos em uma yeshivá (escola religiosa), porém uma lei aprovada no início de 2014 acabou com essa prerrogativa.
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“Eu me identifico totalmente com os 43 oficiais e soldados que enviaram outra carta ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, recusando-se a espionar os palestinos”, acrescenta em relação à carta pública enviada em setembro por um grupo de membros da Unidade 8.200, pertencente à Inteligência Militar do país e dedicada a realizar escutas para coletar informações sobre habitantes de Cisjordânia, Gaza, Irã e outros países do Oriente Médio.
“A ocupação já tem quase meio século de existência. Fico contente de que haja pessoas que continuem se opondo a um sistema que é antidemocrático e imoral”, continua Avner, referindo-se aos depoimentos distribuídos na imprensa por alguns signatários da carta. “Se alguém nos interessava, compilávamos dados sobre sua situação econômica ou seu estado mental. Então planejávamos que operação poderíamos realizar para convertê-lo em um colaboracionista”, escreve um deles. “Qualquer informação que pudesse permitir a extorsão de um indivíduo era considerada relevante, seja porque ele tinha certa orientação sexual, era infiel à esposa ou precisava de tratamento médico em Israel ou na Cisjordânia. Então isso era objeto de chantagem”, escreve outro soldado.
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Segundo Wishnitzer, hoje especialista em história do Oriente Médio, “eles nos fazem acreditar que não temos outra escolha a não ser lutar ou fazer o que quer que seja para nos defendermos, de forma que quando acabamos uma guerra – no caso, a recente invasão de Gaza – eles já estão nos preparando para a próxima”, alfineta.
Nas últimas semanas, os meios de comunicação israelenses seguem especulando sobre a possibilidade de uma organização jihadista perpetuar algum ataque desde as Colinas de Golã, na fronteira com a Síria, ou sobre este ser um bom momento para as Forças Armadas israelenses lançarem um ataque contra o grupo libanês Hezbollah. De acordo com Wishnitzer, a esquerda israelense atravessa uma grande crise em uma sociedade cada vez mais conservadora e se revela incapaz de dar respostas aos objetivos morais e políticos do país. “Esta crise da esquerda, porém, não começou com a segunda Intifada; é muito anterior a ela”, acrescenta.»

Fonte: Opera Mundi

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