Por Álvaro Cunhal
Eu gostaria de dizer algumas palavras à cerca do sonho. Porque o sonho é a primeira expressão talvez, numa vontade de transformação social falando de uma sonho relativo à sociedade. Mas, para uma pessoa que intervém na política, que intervém na transformação da sociedade, o sonho é uma fase inicial, porque mesmo na história da humanidade, o homem começou por sonhar mas, sonhar tendo também a convicção que esse sonho não era realizável.
Ficava com uma aspiração muito viva mas, não realizável. Depois através dos anos, podemos até dizer dos séculos e até dos milénios, além do sonho vem por vezes a explosão da revolta, a indignação em relação às injustiças. Depois vem a utopia, ou seja, um sonho já concretizado no ideal mas, um ideal não realizável também, por isso se chama utopia. Depois transformou-se a utopia num projecto. Não apenas numa ideia irrealizável mas, num projecto que se admitiu que podia ser realizado. Numa fase mais actual esse projecto transformou-se em acção, em intervenção, em acção revolucionária, e finalmente, não apenas em acção revolucionária mas, em transformação da vida. Por isso se fale de sonho, do sonho dos portugueses pela democracia, eu creio que durante os 50 anos de ditadura que tivemos, o sonho não teve todas essas fases, porque ao mesmo tempo que se sonhava, no que respeita aos comunistas - em que eu sou comunista, não é? - esse sonho já era acção revolucionária, já era intervenção com vista à realização, à concretização, do sonho que se tinha. Liberdade e democracia, como sonho mais vivo que era nosso, dos comunistas, dos democratas e, também, do povo português.
Sem comentários:
Enviar um comentário