sábado, 3 de novembro de 2018

MAIAKOVSKI

“VLADIMIR ILITCH LENIN”
«Este poema épico foi escrito em 1924 por Vladimir Maiakovski (1893-1930) sob o impacto da morte de Lenine, falecido em 21 de Janeiro daquele ano. Em vez de um requiem, o poeta escreveu um canto forte e flamejante, uma ode à Revolução Socialista de Outubro, ao legado de Lenine e ao Partido Comunista russo. A escolha deveu-se ao facto de que a biografia do homenageado não se coadunava com versos enlutados que pretendessem encaminhá-lo ao repouso eterno. O poema proclama que mesmo depois da morte, Lenine/ ainda/ está mais vivo do que os vivos.

Sendo a oficina poética de Maiakovski uma fábrica soviética de produzir felicidade, essa fábrica trabalhou meses seguidos para construir este livro, em três partes, por ordens expressas do coração e pelo dever do mandato. É daquelas obras com as quais o autor sofre como uma videira que padece de frio e sede para gestar a uva da qual jorrará o excelente tinto. O talento de Maiakovski foi forçado ao limite. Corpo e alma sugados. Afinal, a Rússia soviética era para ele “a musa das musas”. E Lenine representava a personificação dessa vitória inaugural dos trabalhadores.

Um dado particular demonstra a autenticidade do impulso do poeta: Lenine, no geral, teve uma avaliação comedida sobre o trabalho literário de Maiakovski. Esse juízo, em parte, decorria do conteúdo iconoclasta do Futurismo Russo em relação aos clássicos e ao passado. Mais adiante, o poeta alterou essa concepção, inclusive enaltecendo Pushkin, ícone sagrado da literatura da sua terra.

Apesar da tensão, Maiakovski escalou bem a montanha. O peso da responsabilidade chegou a atemorizá-lo. Na autobiografia reconhece: “(...) Eu tinha muito medo desse poema, era tão fácil descer à paráfrase política. A receptividade do auditório operário alegrou-me e reforçou em mim a certeza da necessidade do poema”.

Na verdade, Maiakovski talvez fosse o único escritor soviético da sua geração cuja trajectória e singularidades conferiam credenciais suficientes para escrever esta homenagem. Ele usou toda a densa poesia, a cultura política e filosófica, e a condição de quem participou directamente nas barricadas que levaram Outubro à vitória. (…)»

Guilherme Antunes

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