terça-feira, 7 de julho de 2020

PCP CARLOS PAREDES E O PREC

Por Hélder Menor
Esta, contou-me uma amiga e camarada com muitos mais anos de experiência de luta que eu.
A minha amiga e camarada trabalhou mais de quarenta anos na industria seguradora e teve em todas as barricadas da luta politica e sindical desde o final dos anos sessenta até por volta de 2010 quando se reformou.

Contou-me a minha amiga que no verão de 1975, o celebre Verão Quente, foi em tarefa a Braga para participar numa iniciativa do PCP.
Por esses dias, no norte do país, mobilizados por padres salazarentos, os fascistas atacavam à bomba e acendiam fogueiras nos centros de trabalho do PCP. Nesse dia, cercaram o centro de trabalho do Partido em Braga e ameaçavam matar queimando todos os comunistas no interior do edifício.
A tarefa da minha amiga consistia em acompanhar o camarada Carlos Paredes, esse mesmo, o Carlos Paredes, o guitarrista.
Viajaram de noite, chegaram de manha cedo e foram para o Centro de Trabalho.
À hora de almoço, estava uma multidão enfurecida a atirar pedras contra as janelas. A PSP fechada na esquadra. As linhas telefónicas cortadas.
Dentro do centro de trabalho avaliava-se a situação e contavam-de os braços enquanto se esperava que chegassem trabalhadores organizados do Porto e dos estaleiros navais de Viana do Castelo.
Os militares do COPCOM tinham sido chamados mas não se sabia a que horas chegavam, nem se chegavam.
Lá dentro, o nervosismo crescia. Discutia-se sobre o que fazer e como fazer. O medo e a coragem é sabido, dormem na mesma cama em total promiscuidade. Enquanto se reforçavam as janelas e se preparava a defesa, o camarada Carlos Paredes afinava a guitarra. A minha amiga diz que o camarada afinava a guitarra como se estivesse na sala da sua casa na Damia.
Na rua gritos de morte. O barulho aumentou e ouvia-se a chuva de pedras. O responsável pela segurança sugeriu a organização de uma barricada interna.
Foi nesse momento que o Camarada Carlos Paredes, guardou a guitarra dentro do estojo de madeira e pegou no banco alto de ferro e madeira onde tinha estado sentado e se posicionou em frente à porta. De pé, lado a lado com os outros camaradas presentes, armados com martelos e chaves de ferro.
Subitamente o silêncio.
Alguém bateu com força na porta.
Felizmente, era a malta dos estaleiros navais de Viana do Castelo.
Nas ruas de Braga, os valentes fascistas que ameaçavam queimar num acto de fé os comunistas, quando viram a ganga dos operários dos estaleiros, decidiram voltar para as sacristias de onde saíram.
O camarada Carlos Paredes, à tarde, antes do comício, tocou o seu reportório, como combinado.
Acabada a tarefa, arrumou a guitarra no estojo de madeira e voltou para Lisboa onde, madrugada alta, a minha amiga o deixou em casa.
-- Paredes, hoje aquilo de manha esteve feio lá em Braga...mas tu ficaste com o banco na mão... Ias bater-lhes com o banco?
-- Ó amiga, se eles entrassem não era para me ouvirem tocar...
....
A fotografia mostra a horda de fachos a apedrejarem e a tentarem invadir o centro de trabalho do PCP de Braga em 1975 - https://bit.ly/3gx0tp2

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