Dez diferenças do congresso do PCP
Acontecem de quatro em quatro anos e realizam-se sempre no primeiro fim-de-semana de Dezembro. Em que mais as reuniões magnas dos comunistas se distinguem das dos outros partidos?
SÓNIA SAPAGE 4 de Dezembro de 2016, 10:49
1. Pontualidade
Nos congressos do PCP, a pontualidade é britânica. Não há atrasos. Se começa às 9h30, não começa nem um minuto depois. Se o líder fala às 11h da manhã, fala mesmo. As intervenções são, aliás, cronometradas por um relógio digital que está junto ao palco para toda a gente ver.
2. Segurança e organização
É tudo feito com prata da casa, mas nem por isso é menos profissional. São os próprios funcionários do partido que controlam as entradas no recinto dos trabalhos e que se certificam que ninguém circula nos espaços interditos. Jornalistas junto aos congressitas, nem pensar. Nem sequer no último dia.
3. Sala sempre cheia
É muito comum, nos congressos do PSD ou do PS (mas não só), haver momentos em que as cadeiras vazias são mais do que as cheias, seja por haver futebol, porque o regresso do almoço se faz por ondas ou porque há reuniões partidárias que decorrem em simultâneo. Nos congressos do PCP, delegados e convidados estão no interior do pavilhão em permanência.
4. Léxico
Há um conjunto de palavras muito próprias do léxico comunista e que não se ouve noutros conclaves, como por exemplo células (organismos de base do partido que funcionam junto de empresas, de escolas, etc.) ou teses (propostas políticas do comité central, são uma espécie de moção única que depois de aprovada passa a chamar-se a Resolução Política).
5. Palco
No palco, durante todos os dias dos trabalhos, está a Mesa do Congresso. Ao contrário do que acontece nos outros partidos, a mesa é um órgão composto por muitos membros e todos têm assento em lugar privilegiado, perante os congressistas. No caso do PSD, por exemplo, só no último dia o palco fica cheio, com os representantes dos órgãos entretanto eleitos.
6. Intervenções
Aqui, não há lugar ao improviso. As intervenções em congresso são quase todas previamente escritas e são lidas. Aliás, os discursos constituem verdadeiros relatórios do trabalho realizado nas empresas ou noutras entidades onde o PCP tem representantes.
7. Prime-time
Não se pode dizer que os discursos dos principais dirigentes estejam todos concentrados nas melhores horas do dia para efeitos mediáticos. Ou seja, Jerónimo de Sousa não discursa necessariamente à hora do telejornal e Carlos Carvalhas, Rúben de Carvalho ou Mário Nogueira não se atropelam a disputar a mesma hora, ao final da tarde de sábado. As intervenções são distribuídas ao longo do congresso sem especiais hierarquias.
8. Desmontagem do pavilhão
No final dos trabalhos há um espectáculo curioso que é ver os próprios delegados a desmontarem a “mobília”. Não há profissionais de empresas de mudanças. Todo o material - mesas, cadeiras, carpetes, tecidos, etc - são propriedade dos comunistas. Já não é a primeira vez que este material é alugado pelo PCP a outros partidos para os seus congressos.
9. Data e frequência
Os congressos do PCP não se realizam de dois em dois anos, como no caso dos do PS, PSD ou CDS. A sua frequência é de quatro em quatro anos e só ainda houve 20. São sempre marcados para o primeiro fim-de-semana de Dezembro. Desta vez, as palavras de ordem eram: “Basta de submissão à União Europeia e ao Euro”, “Empregos, direitos, produção, soberania” e “PCP – Com os trabalhadores e o Povo: Democracia e Socialismo” e “Os valores de Abril no futuro de Portugal”.
10. Hospedagem
Finalmente, uma diferença relacionada com logística. Os delegados ao congresso não costuma esgotar os hotéis da zona onde o conclave se realiza porque subsistir o hábito de ficarem hospedados em casa de “camaradas”. Noutros partidos, tal também pode acontecer, mas não com a mesma expressão.
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