Lugar do Furadouro à espera da "inevitável" passagem a freguesia de Ovar
Sara Dias Oliveira 29 de Abril de 2004, 0:00
Os amigos chamam-lhe, por brincadeira, "presidente da junta". José Pereira, 70 anos, ri-se do baptismo que, no fundo, tem uma razão de ser. Defende com garra o Furadouro, lugar da freguesia de Ovar, uma das "salas de visitas" do município vareiro, a cinco quilómetros do centro ovarense.
Esteve na Comissão de Melhoramentos do Furadouro, criada em Julho de 1991, e continua ao lado de quem luta para que a localidade suba de estatuto. "É grave que não se aproveitem as potencialidades do Furadouro. Por outro lado, há muitas necessidades como, por exemplo, um hotel, um salão multiusos e uma piscina", concretiza. O mar bate todos os dias na localidade que quer ser freguesia. O Furadouro é uma zona balnear que, quando o tempo aquece, vê os habituais cinco mil habitantes esticarem até aos 20 mil, na sua grande maioria turistas. Daí que o desejo de subir de estatuto ainda more por ali. Com convicção. Porque há estruturas que fazem falta a uma terra que quer caminhar pelos seus próprios pés. O presidente da comissão de melhoramentos, Augusto Rodrigues, acredita que o sonho vai concretizar-se. "É uma questão de tempo, porque é inevitável que o Furadouro passe a freguesia", afirma. Quem fala assim é o mentor da proposta para a elevação do lugar ovarense a freguesia, apresentada na autarquia vareira em Abril de 2000, aprovada por unanimidade, tanto no órgão deliberativo como no executivo da câmara local. Na altura, Augusto Rodrigues era vice-presidente da edilidade. O documento referia que a estrutura sócio-económica do Furadouro assentava no comércio, com cerca de 200 estabelecimentos , e que a praia era procurada por gente de vários concelhos vizinhos. A proposta deu, aliás, origem ao livro "Furadouro - Uma terra com passado e com futuro...". "Nesta proposta vai a minha homenagem a todos aqueles que vivem de pouco pão e de luar", escrevia Augusto Rodrigues. O processo não subiu à discussão da Assembleia da República, por faltar o parecer da Junta de Freguesia de Ovar. Neste momento, o responsável prevê que, em breve, o PSD leve o assunto ao hemiciclo. Avelino Cunha tem 70 anos e não tem dúvidas. Se o Furadouro passasse a freguesia, refere, "os interesses seriam acautelados e a localidade deixava de ser telecomandada". A visão, de quem ali nasceu e mora, diz que, entre outros equipamentos, era preciso uma dependência bancária, uma vez que o único multibanco não dá resposta à procura. A construção de um hotel e transportes públicos mais baratos são os dois maiores "pedidos" do casal Hipólito Oliveira e Fátima Oliveira, que há 30 anos vive no Furadouro. Acima de tudo, o par defende que as potencialidades da praia podem e devem ser aproveitadas. No entanto, Hipólito Oliveira considera que a passagem a freguesia pode significar a divisão de verbas e que, portanto, o lugar pode ficar prejudicado, em termos de investimentos. "O Furadouro podia ser melhorzinho se fosse freguesia". Esperança Rodrigues, 73 anos, vive em frente ao mar, junto a um aglomerado de velhas habitações que destoa com a imponência dos novos prédios que surgem ali ao pé. E a vida corre devagar para Rosa Tavares, 72 anos, que vive numa "casa toda velhinha, com ratos". Não tem a certeza se seria bom a terra que a viu nascer passar a freguesia, mas sente que "o desenvolvimento foi benéfico". O presidente da Câmara de Ovar, Armando França, recorda, em primeiro lugar, que "há um conjunto de requisitos legais que a Assembleia da República tem de avaliar e sindicar", apesar de estarem reunidas todas as condições na proposta elaborada há alguns anos. O autarca reforça que a população residente do Furadouro tem vindo a aumentar e que, sob o ponto de vista comercial, a localidade "tem vida própria". "Há sinais sociológicos e demográficos, e de vivência local, que sugerem a criação de uma nova unidade administrativa", defende. França realça ainda que está em construção um posto de turismo, no topo norte do Furadouro, onde vai nascer uma sala de exposições e de realizações de diversas iniciativas culturais. Um equipamento que, na sua perspectiva, é uma mais-valia para a praia do Furadouro.
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