quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

CENTRO DE TRABALHO VITÓRIA

HOTEL VITÓRIA: DE HOTEL DE NAZIS A CENTRO DE TRABALHO DE COMUNISTAS

Edifício de seis pisos e terraço, com o seu design inovador, instalado na majestosa Avenida da Liberdade nº 168 – 170, começou por ser pensado como prédio de apartamentos, mas acabou sendo adaptado a hotel: o sumptuoso e soberbo «Hotel Victória», com 75 quartos com casa de banho e telefone, contando com serviço de bar, sala de estar e salão de jantar, como rezava a publicidade da época.

Construção modernista, que se destaca de uma avenida de edificações mais clássicas, da autoria do arquiteto Cassiano Branco (1897 – 1970), foi inaugurado em 1936.

Poucos anos depois da sua abertura, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), tornou-se um lugar de eleição de simpatizantes – portugueses e estrangeiros – germanófilos, de espiões nazis e de falangistas espanhóis, fazendo parte da lista divulgada pelos americanos, em 1943, de hotéis lisboetas pró-Eixo, sendo considerado «o mais perigoso de todos».

Ironicamente, Cassiano Branco, opositor declarado do Estado Novo e dos fascismos que nesse tempo grassavam por essa Europa fora, afastado pelo regime a partir da década de 40 de quaisquer encomendas públicas, acabou por ver o seu nome associado a gente da pior espécie...

Entretanto, a guerra acabou e, como por magia, após maio de 1945, os apoiantes do III Reich sumiram em silêncio e o espaço hoteleiro metamorfoseou-se num espaço pacato.

Em meados dos anos 60, não aguentando a concorrência de outros hotéis mais modernos e confortáveis, o Vitória fechou portas e o edifício ficou ao abandono durante anos. Esteve para ser demolido. Foi graças ao Partido Comunista que o edifício sobreviveu, quando, em março de 1975, decidiram arrendá-lo para aí instalar o «Centro de Trabalho Vitória». Acabariam por adquiri-lo, em 1984, a uma sociedade de investimentos, com dinheiro de uma campanha de fundos, tendo custado 60 mil contos (300 mil euros). 

Quando, em 2005, morreu o dirigente comunista Álvaro Cunhal, e o seu corpo aí ficou em câmara ardente, saindo depois ao som da Internacional, cantada por milhares de pessoas, já o passado nazi do edifício se tinha há muito desvanecido. Para sempre, esperemos...

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