segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

POESIA

Das pastorinhas

Não mudamos 
nem o Natal 
só o mundo é mudança 
feita a esperança 
como num sonho um sino
Menino 
face a face 
do oculto renasce 
desfaz a errada realidade 

Natal 
tão mais remoto que o passado 
íntimo mais que o presente 
que o pensar e sentir da gente. 

Só igual ao futuro amor 
recomeçado. 


Quatro poemas sobre o burro e o boi no presépio

Onde se aviva a doçura 
de um pouco de úmido e relva; 
de alma? 
Mas a própria luz 
que os circunfulge 
recebe 
das brancas frontes 
intactas de afeto, tontas, 
algo que faltava 
à sua excessivamente concreta 
pureza. 
Quentes limites de Deus, 
rudes, ternos anteparos. 
Apenas as grandes cabeças: 
mas tão de joelhos 
quanto os pastores 
os anjos 
as estrelas 
a Virgem. 

II 
Querúbicos. 
Irônicas imagens. 
Vibrar de fulgor floresce-lhes de esfinge os vultos 
- à hora atônitos. Como 
ante uma infração da ordem que aceitaram. 
Acordam, meio a um momento. 
Eles têm o segredo? 

III 
A fábula de ouro, o viso, o 
Céu que se abre, 
chamaram-nos de seu sono ou senso sem maldade. 
Tão ricos de nada ser, tão seus, somente. 
Capazes de guardar 
no exigido espaço 
a para sempre grandeza 
de um momento. 
Com sua quieta ternura, 
ambos, que contemplam? 
Sabem. 
Nada aprendem. 

IV 
Serão os pajens da Virgem, 
ladeiam-na 
como círios de paz, 
colunas 
sem esforço. 
Taciturnos 
eremitas do obscuro, 
se absorvem. 
Sua franqueza comum equilibra frêmitos e gestos 
circunstantes. 
Os animais de boa-vontade. 

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