«5 DE ABRIL, EDIÇÃO Nº 331 - JUL/AGO 2014
Festa do Avante! A Festa do Portugal de Abril
por TELMA CAPUCHO
Em Setembro de 1976, na FIL (Feira Internacional de Lisboa), nasceu a Festa do Avante! A Festa que Portugal nunca tinha visto!1. Após 48 anos de luta pela liberdade contra a ditadura fascista, e ainda no no período da revolução, o Partido Comunista Português decide com audácia e coragem realizar a Festa com o nome do seu órgão central – o Avante!. A Festa que viria a ser «a maior, a mais extraordinária, a mais entusiástica, a mais fraternal e humana, jamais realizada no nosso país.»
A Festa do Avante! nasce da vontade do povo português, vontade essa que o PCP ergueu em Festa. Construiu-se a festa dos comunistas para todos os portugueses que seria e permanece como um espaço único de convívio, amizade, solidariedade, camaradagem e afirmação da liberdade e democracia.
Desde a primeira edição que a Festa é uma grandiosa manifestação de massas, e afirmou-se desde logo como a mais relevante realização política e cultural do país. A cidade dos três dias que combina a informação, o debate, a intervenção política, com a cultura, as artes e espectáculos, o desporto e a gastronomia. Um espaço onde o país e o mundo estão presentes.
No Portugal de Abril, a Festa deu ao país uma extraordinária oferta cultural, deu a conhecer as mais diversas expressões musicais, reuniu centenas de artistas nacionais e internacionais, promoveu o teatro, o cinema, a literatura, a fotografia, as artes plásticas, o artesanato e divulgou a cultura popular portuguesa. Durante anos foi a única iniciativa com tamanha diversidade cultural, com o tempo surgiram outros espaços, mas a Festa, tendo mudado porque o país mudou, não deixou nunca de inovar e de promover o que de melhor se faz em Portugal.
A Festa do Avante!, festa do PCP, construída pelos trabalhadores para quem trabalha, assumiu-se desde sempre como uma festa de classe, que, pelas suas características e pelo ambiente de amizade, fraternidade, alegria e liberdade que nela se vive, conquistou, desde o primeiro dia, o coração de muitos milhares de pessoas (comunistas ou não comunistas), e o seu prestígio permanece e é transversal a todas as idades, destacando-se a juventude pela entusiástica participação.
Com o 25 de Abril de 1974 foi possível tornar realidade a Festa do Avante! E como afirmou Álvaro Cunhal: «A Festa do Avante! por tudo quanto é, por tudo quanto representa, por tudo quanto significa para os trabalhadores, para o povo, para o país, para o regime democrático, bem se pode classificar como uma conquista de Abril e um espelho do Portugal de Abril.»3
Ao longo de todas as edições da Festa do Avante! estiveram presentes e se projectaram os valores de Abril. Na festa festejámos a sociedade nova que construíamos e celebrámos as conquistas da revolução, denunciámos os recuos, valorizámos as lutas travadas, assinalámos as vitórias, aprendemos com as derrotas fruto da situação nacional e internacional, sinal dos avanços e recuos da história.
Como todas as conquistas de Abril, a Festa do Avante! ao longo das suas 37 edições também foi sendo alvo de ataques, de tentativas de a limitar ou inviabilizar. A recusa de espaços para a sua realização levou a Festa da FIL, ao Vale do Jamor, ao Alto da Ajuda, a Loures, até à conquista de um espaço próprio, que é nosso, a Quinta da Atalaia, no concelho do Seixal.
Confrontamo-nos hoje com outras tentativas de condicionar a sua realização, como a actual lei dos partidos e do seu financiamento, mas a Festa do Avante! continua de pé e tem de ser defendida. Se todas as liberdades se defendem exercendo-se, também a Festa resistirá enquanto o Partido estiver fortemente ligado aos trabalhadores, ao povo e ao País. A Festa é do Partido, dos seus militantes e de todos aqueles democratas e patriotas que queiram fazer sua a nossa Festa.
A Festa do Avante! mantém-se e já está em preparação a 38.ª edição, que se realizará a 5, 6 e 7 de Setembro, na Atalaia, Amora, Seixal.
A Festa e o Partido
A Festa que temos e todos os anos erguemos só é possível pelo Partido que temos, como destacou Álvaro Cunhal: «Só um partido onde a iniciativa individual se enquadra sempre na grandiosidade do trabalho colectivo; só um partido onde a vida democrática dá aos militantes a consciência do valor da sua própria acção; só um partido onde a unidade se afirma no esforço conjugado do imenso colectivo partidário; só um partido de elevada militância, habituado ao trabalho duro e à luta; só um partido com profundas raízes na classe operária e nas massas trabalhadoras; só um partido com destacada intervenção em todos os sectores fundamentais da vida nacional; só um partido com grande experiência e capacidade de realização; só um partido marxista-leninista; só um partido patriota e internacionalista – poderia realizar uma Festa como esta.»4
Por isso a Festa é um espelho da vida interna, democrática e militante do PCP. É uma clara demonstração do estilo de trabalho colectivo, da capacidade de organização e realização, da imaginação criadora, associada a uma intensa capacidade política dos comunistas portugueses.
«A Festa é concebida e realizada pela inteligência, os braços, o empenhamento e o entusiasmo militante dos comunistas e amigos, bem presente desde a primeira jornada de trabalho».5 Este ano iniciada a 28 e 29 de Junho.
Está em marcha a Festa deste ano. E isso implica a definição de objectivos, planificação e concretização, decisivas para o êxito da Festa e, este é incompatível com soluções de rotina e com o improviso.
Em cada organização ou sector do Partido é necessário discutir, planificar e concretizar a participação na Festa, definir o que melhor caracteriza a sua região, a gastronomia e artesanato regional, mas também os problemas, os interesses, as lutas dos trabalhadores e das populações, e as propostas e soluções que o PCP propõe.
A Festa do Avante! é uma grande exposição da luta, da proposta, do programa e projecto do PCP, e cada Organização Regional contribui para uma festa cada vez mais bela e atractiva para o visitante.
É necessário dirigir e responsabilizar quadros para assegurar as inúmeras tarefas desde a organização da excursão, à divulgação, à venda da EP (Entrada Permanente), à concepção do projecto, à sua construção e ao funcionamento durante três dias.
A Festa está profundamente enraizada junto dos trabalhadores, do povo e da juventude e todos os anos há milhares de novos visitantes e construtores. Mas a semente espalhada pelas anteriores edições da Festa tem de ser todos os anos cuidada, dando a conhecer a Festa, a data da sua realização e qual o seu programa, através dos meios centrais de divulgação e promoção disponibilizados (documentos, tarjetas, cartazes, jornal dos artistas, página da internet, muppies, pendões, faixas) ou através de documentos próprios elaborados pelas organizações.
Outro meio de divulgação da Festa é também a venda da EP. A sua compra antecipada corresponde a um importante contributo solidário para a construção e realização da Festa, e ao mesmo tempo é um compromisso prévio de participação. A compra e venda antecipada da EP é garantia do êxito financeiro e de massas da maior iniciativa realizada pelo nosso Partido.
O sucesso da Festa também passa pelo envolvimento e pela capacidade de mobilização de todos os militantes e amigos na preparação, construção e funcionamento desta grande realização político-cultural.
Pelo ambiente que se vive, pelo que afirma, pelo que comunica, pelo que propõe, a Festa constitui um importante contributo para combater preconceitos anticomunistas, potenciar o trabalho unitário e promover o recrutamento.
Podendo ainda contribuir para a criação de uma célula, ou a consolidação de um colectivo, ou o recrutamento de amigos que sempre estiveram connosco na Festa.
Por tudo isto, a Festa é um instrumento inigualável para o reforço do Partido, pois:
A Festa é capacidade de direcção.
A Festa é responsabilização de quadros.
A Festa é um contributo para a dinamização das organizações.
A Festa é recrutamento.
A Festa é militância.
Como sublinhou Álvaro Cunhal: «No total são milhares de militantes que, ou num trabalho permanente no terreno, ou em jornadas de trabalho voluntário, ou em actividades altamente qualificadas, sob o ponto de vista técnico e artístico, ou nas estruturas criadas em cada região, asseguram com um trabalho colectivo superiormente organizado a realização da grandiosa iniciativa.»6
38.ª Edição da Festa do Avante! 5, 6 e 7 de Setembro
Na Festa do Avante! deste ano celebramos os 40 anos da Revolução de Abril, «relembrando, é certo, o passado, testemunhando o presente»7 mas projectando os valores de Abril no futuro de Portugal.
A Revolução de Abril, realização histórica do povo português, que terminou com 48 anos de obscurantismo, que pôs fim à ditadura fascista e realizou profundas transformações democráticas – políticas, económicas, sociais e culturais – que alicerçadas na afirmação da soberania e independência nacionais, abriu perspectivas para um novo período histórico, o socialismo. Este acontecimento maior da história do nosso país estará bem presente na Festa e terá expressão nos espectáculos, nas artes plásticas, no teatro, no cinema, no desporto, no espaço Ciência, nas exposições, nos debates, na informação e no contacto com o visitante.
No Espaço Central o 40.º aniversário do 25 de Abril estará patente nos debates, na exposição de artes plásticas com o tema «A Arte da Revolução», na exposição central que destacará o significado da revolução, o que significou de transformação, desenvolvimento e avanço, o que representou de conquista, não esquecendo o PCP e o seu papel na luta antifascista, na defesa das conquistas da Revolução e na luta pela afirmação dos valores de Abril, cada vez mais actuais, para que se mantenham vivos e se projectem, consolidem e desenvolvam no futuro de Portugal.
No plano dos espectáculos destaca-se o Concerto para Cravos e Orquestra Opus 40, a decorrer na sexta-feira, no Palco 25 de Abril - que incluirá obras de Chopin, Beethoven, Schumann, e Mozart, interpretados pela Sinfonieta de Lisboa sob a direcção do maestro Vasco Pearce de Azevedo.
Nesta Festa festejaremos o 25 de Abril de 1974 também com a poesia de Ary dos Santos – poeta de Abril e da Revolução. As imagens da revolução também não faltarão, em particular na exposição de fotografias de Eduardo Gageiro, com 40 fotografias que marcaram e registaram um momento único da história de Portugal.
A Festa será também uma grandiosa jornada de luta em defesa dos trabalhadores e do povo português, da independência e soberania nacional mas também de amizade, cooperação e solidariedade internacionalista. Dezenas de delegações de partidos comunistas e progressistas do mundo marcarão presença no Espaço Internacional, (com a sua gastronomia e artesanato), mas acima de tudo, com a luta dos seus povos, pela paz, liberdade, contra o capitalismo pela alternativa possível e necessária, o socialismo.
Celebramos os valores de Abril num contexto da situação nacional de grave crise económica e social. Crise que é consequência de mais de 37 anos de políticas de direita, do processo de integração capitalista europeu, da submissão do país ao grande capital transnacional e ao Euro, de total confronto com o que Abril nos deu. Situação que foi agravada com a inaceitável intervenção externa e aplicação do Pacto de Agressão subscrito pelo PS, PSD e CDS-PP.
Este rumo de profundo retrocesso social, de definhamento económico e dependência externa, de intensificação da exploração e empobrecimento, pretende ser prosseguido pelo actual Governo, mas tem de ser travado. Por isso a Festa será do povo em luta pela ruptura com a política de direita, pela exigência da demissão do Governo e pela convocação de eleições antecipadas, para pôr termo a uma política e a um governo que sistematicamente afronta a Constituição da República Portuguesa.
Na Festa do Avante! afirmaremos com determinação e confiança que o PCP não abdica da defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país e reafirma o compromisso da luta por uma alternativa patriótica e de esquerda, por uma democracia avançada – os valores de Abril no futuro de Portugal, tendo no horizonte o socialismo e o comunismo.
Notas
(1) Cabeçalho do Avante! n.º 137, de 30 de Setembro de 1976, p.1.↲
(2) Álvaro Cunhal, Entre Duas Eleições – Discursos políticos (9), Editorial «Avante!», Lisboa, 1978, p. 207.↲
(3) Álvaro Cunhal, Intervenção no comício da Festa do Avante de 1982, contracapa de O Militante n.º 85, de Julho de 1982.↲
(4) Idem.↲
(5) Álvaro Cunhal, Falência da Política de Direita do PS (1983-1985) II – Discursos Políticos (20), Editorial «Avante!», Lisboa, 1988.↲
(6) Álvaro Cunhal, O Partido com Paredes de Vidro, Editorial «Avante!», Lisboa, 2002, p. 187.↲
(7) Álvaro Cunhal, Falência da Política de Direita do PS (1983-1985) I – Discursos Políticos (19), Editorial «Avante!», Lisboa, 1988.↲»
Fonte: O Militante
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