«Balança de sanções e promessas
18/03/2014 Fiódor Lukianov, Vladímir Kolossov, especial para Gazeta Russa
Nesta segunda-feira (17), autoridades da União Europeia e dos Estados Unidos adotaram sanções contra personalidades ucranianas e russas envolvidas na anexação da Crimeia à Rússia. Diante do aumento de ameaças em represália pelo referendo deste domingo, observadores traçam dois cenários possíveis (e contrastantes) para o futuro da ordem mundial.
Temo que o otimismo em relação às possíveis sanções do Ocidente seja. De fato, não existem precedentes de medidas punitivas extensas contra um país tão grande e profundamente integrado na economia mundial. Mas o desafio lançado pela Rússia à ordem geopolítica mundial estabelecida tem um caráter crítico e será, certamente, um fator de união para todo o Ocidente.
O mais provável é que o impacto das sanções à Rússia não se faça sentir de imediato – as medidas mais sérias levam tempo e são muito caras para o Ocidente. Tal como na década de 1980, os Estados Unidos e seus aliados vão jogar com a queda nos preços mundiais do gás, do petróleo e de outras commodities. Isso irá contribuir para promover tendências objetivas nas economias desenvolvidas, como a redução do consumo energético e material e a diversificação das fontes de energia. A UE tentará acelerar as medidas já iniciadas na busca de fornecedores alternativos de hidrocarbonetos, a construção de terminais para receber navios de gás natural liquefeito dos Estados Unidos, África do Norte e outras regiões.
Também devem sofrer impacto as áreas de exportação de armamento e cooperação técnico-científica (por exemplo, a construção de usinas nucleares no exterior), que são fatores importantes para a Rússia, seja no plano político ou econômico. O mesmo se aplica aos grandes projetos de investimento das principais empresas ocidentais, pois é possível que tenham de ser colocados de lado por muito tempo.
Mudanças – oficiais e não oficiais – na política de vistos, por exemplo, pela criação de maiores dificuldades no procedimentos para obtenção de visto, podem vir a afetar não apenas os funcionários do governo, mas também os cidadãos comuns.
Finalmente, a reorientação da própria Rússia “para o Oriente” também está longe de ser uma iniciativa simples e barata. A expansão em grande escala da exportação de energia para a China e outros países da região Ásia-Pacífico não dispõe ainda da infraestrutura necessária e sua criação exigirá grandes investimentos. É preciso estar pronto para todas essas consequências.
Vladímir Kolossov é diretor do Centro de Estudos Geopolíticos do Instituto de Geografia e presidente da União Geográfica Internacional»
Fonte: Gazeta Russa
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