sábado, 19 de abril de 2014

UCRÂNIA

«Balança de sanções e promessas
18/03/2014 Fiódor Lukianov, Vladímir Kolossov, especial para Gazeta Russa
Nesta segunda-feira (17), autoridades da União Europeia e dos Estados Unidos adotaram sanções contra personalidades ucranianas e russas envolvidas na anexação da Crimeia à Rússia. Diante do aumento de ameaças em represália pelo referendo deste domingo, observadores traçam dois cenários possíveis (e contrastantes) para o futuro da ordem mundial.

Ocidente se confronta com recusa
Fiódor Lukianov, cientista político
Os “países dos sete” pretendem continuar a se reunir sem a Rússia e seus líderes prometem uma resposta dura à anexação da Crimeia que pode ir até o completo isolamento internacional do país. Até que ponto isso é real?
A esperança ocidental de que a votação na Crimeia não passasse de um movimento tático caiu por terra. Agora é preciso passar das ameaças aos atos. E não existe experiência anterior de sanções eficazes contra uma superpotência nuclear que ocupa grande parte da Eurásia, mantém influência ao redor do mundo e é um gigante reservatório de recursos.

Será possível o isolamento da Rússia? Não dá, é claro, para falar de isolamento absoluto. Em primeiro lugar, porque é impossível ignorar um país tão grande e importante no cenário internacional. Além disso, mesmo que o Ocidente imponha sanções mais severas, assumindo sacrifícios próprios, isso nunca será igual a um embargo mundial. Uma ampla parcela da humanidade – na Ásia, Oriente Médio e na América Latina – acompanha com atenção a maneira como, pela primeira vez desde a década de 1980, alguém desafiou o domínio norte-americano.
Também não se está à espera do apoio formal para a anexação da Crimeia à Rússia. Independentemente de como a China, o Brasil ou mesmo o Irã olhavam para a Ucrânia, ninguém necessita de um precedente de exclusão de território de um Estado reconhecido pela ONU. No entanto, o fato de a Rússia poder começar a desempenhar um papel verdadeiramente independente no cenário mundial, sem olhar para a reação do Ocidente, é interessante para muitos. Isso permite alterar o equilíbrio do poder global. Para Pequim, por exemplo, abrem-se muitas perspectivas.
É possível que ocorra uma mobilização antirrussa, especialmente porque o Ocidente, pela primeira vez em 25 anos, enfrenta a recusa explícita de jogar pelas regras que foram estabelecidas após a Guerra Fria. As sanções minam a economia russa e daí surgem muitas variantes. Mas existe um outro cenário.

A primeira reação será obviamente brusca. Mas se a Rússia virar a sua atenção para o Oriente, os estrategistas começarão a colocar a questão de forma diferente. O que é mais importante: o controle da Ucrânia, que está longe de se encontrar na primeira linha do sistema de prioridades dos EUA, ou o impedimento de uma aliança russo-chinesa, que iria ameaçar seriamente a posição dos norte-americanos? E então, de repente, pode vir a se descobrir que a Ucrânia livre da influência americana, afinal, não é um valor tão absoluto para o Ocidente.
Fiódor Lukianov é presidente do Conselho para a Política Externa e de Defesa.»
Fonte: Gazeta Russa

Sem comentários:

Enviar um comentário