«Álvaro Siza debate o processo SAAL no bairro da Bouça
No âmbito da iniciativa "Ambulatório", Álvaro Siza, Sérgio Fernandez, Pedro Ramalho e Eduardo Souto de Moura vão ter encontros/debates com as associações de moradores dos bairros SAAL-Norte.
Enquanto em Serralves permanece a grande exposição intitulada "O processo SAAL: Arquitetura e Participação, 1974-1976", em vários espaços da cidade do Porto vão ocorrer, até janeiro, diferentes encontros entre os arquitetos responsáveis por brigadas do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) e representantes dos moradores dos bairros intervencionados.
A primeira conversa incluída neste programa comissariado pelo arquiteto Nuno Grande está marcado para esta sábado, a partir das 16h e terá como palco uma das mais emblemáticas obras de Álvaro Siza na área da habitação social: o bairro da Bouça.
O objetivo da iniciativa, diz Nuno Grande, "é confrontar os diferentes imaginários desenvolvidos sobre os bairros, partindo do ponto de vista de quem os concebeu, de quem os viveu, e de quem os vive contemporaneamente".
O figurino a seguir amanhã, com moderação de Nuno Grande, será depois replicado nos restantes encontros e consistirá de uma comunicação, com base em imagens, das diversas vivências de cada bairro ao longo dos últimos 40 anos, a partir de uma recolha documental de cartazes, diapositivos e fotografias guardadas pelos primeiros moradores, pelos seus descendentes, ou até pelos novos habitantes.
Uma viagem à Bouça
A Bouça é um caso muito particular, não apenas por ter constituído um importante ponto de partida para a posterior projeção internacional de Siza, como pelo facto de, em rigor, se tratar de um projeto iniciado ainda antes do 25 de Abril de 1974 no âmbito do Fundo de Fomento da Habitação (FFH).
Logo após a Revolução é formada a Associação de Moradores da Bouça e, com o apoio de uma Brigada SAAL, o projeto de Álvaro Siza é reconvertido e integrado naquela operação de duração curta no tempo, mas com um forte impacto na sociedade.
A conversa com Siza decorrerá no local onde aconteceram as primeiras reuniões entre os arquitetos e a Associação de Moradores. Esta espécie de viagem no tempo permitirá percorrer os vários passos da evolução do projeto, desde o início à sua interrupção, com passagem pelo processo que levou á sua retoma e conclusão, em 2006.
O próximo encontro decorrerá ainda este mês, no dia 22, e juntará Sérgio Fernandez com a Associação de Moradores do Leal, com moderação de Alexandre Alves Costa. A 13 de dezembro Pedro Ramalho conversará com a Associação de Moradores das Antas, com moderação de Margarida Ramalho. Por fim, a 17 de janeiro, Eduardo Souto Moura conversa com a Associação de Moradores de S. Vítor, com moderação de José António Bandeirinha.
S. Vítor: um caso paradigmático
O caso do bairro de S. Vítor é paradigmático do que foi e do que aconteceu ao processo SAAL. A operação ali desenvolvida foi uma das mais difundidas a nível nacional e internacional, mas é ao mesmo tempo um dos exemplos maiores da interrupção e desvirtuamento do processo SAAL nos anos posteriores a 1976.
Este projeto foi iniciado em outubro de 1975 sob coordenação de Álvaro Siza, que dirigia uma brigada de alunos do Curso de Arquitetura da Escola Superior de Belas Artes do Porto-ESBAP, entre os quais se veio a destacar Souto Moura.
O encontro de Souto Moura com os moradores decorrerá no Auditório da ESBAP, espaço onde, como diz Nuno Grande, decorreram "acesos debates públicos durante o SAAL, entre políticos, arquitetos e alunos das Brigadas, mas sobretudo destes com os moradores em permanente reivindicação: 'casas sim, barracas não".
Todos estes encontros serão abertos à população e terão entrada livre.»
Fonte: Expresso
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