«Omar Sharif lamenta ter interpretado Che Guevara em filme "manipulado"
Javier Otazu
Cairo, 5 nov (EFE).- O veterano ator egípcio Omar Sharif ainda lamenta ter interpretado o guerrilheiro Ernesto Che Guevara no ano de 1969, em "Che!", um filme que afirma ter sido "inteiramente manipulado pela CIA (Agência de Inteligência Americana)" e que agora vê como o maior erro de sua vida.
"Eu exigi fazer um filme que não tivesse um tom fascista", lembra Sharif, em entrevista à Agência Efe concedida por ocasião de sua breve passagem pelo Cairo, onde acaba de rodar "Al Musafir" ("O viajante"), do jovem diretor egípcio Ahmed Maher.
"Em 1969, fazia apenas dois anos que Che havia sido morto nas serras bolivianas, e ainda era um herói incrível", lembra Sharif.
O galã egípcio, que está prestes a completar 76 anos, lembra amargamente que seu papel como Che teve certa dignidade porque ele assim exigiu em seu contrato, "mas o Fidel Castro interpretado por Jack Palance e o filme em geral (dirigido por Richard Fleischer) resultaram em um produto fascista".
"A CIA estava por trás, queria fazer um filme que agradasse aos cubanos de Miami e eu só me dei conta disso no final", diz Sharif, contando que uma sala de cinema de Paris foi queimada por espectadores irados pela imagem negativa que o filme fazia de Che e da Revolução Cubana.
Sharif interpretou guerrilheiros, príncipes, ditadores "e todos os papéis imagináveis", e reconhece resignado que agora só lhe oferecem "papéis de velhos", como o que interpreta em "Al Musafir", de um homem de 81 anos no declínio de sua vida.
Embora seja lembrado principalmente por seus papéis em filmes como "Doutor Jhivago" e "Lawrence de Arábia", Sharif não guarda especial carinho pelos personagens que encarnou naqueles filmes.
"Um ator se devota ao papel que interpreta em cada momento", afirmou.
Sharif também continua, ele próprio, sendo um personagem, temperamental e sem papas na língua; não deixa de responder a nenhuma pergunta, mas às vezes se enche de raiva e levanta sua voz.
"Eu vou aonde me chamarem para fazer um filme; posso passar temporadas no Japão, no México ou na Itália. Mas não sou de nenhum lugar nem tenho uma casa que seja minha", afirmou.
"Quando não estou filmando, prefiro estar em Paris, mas sempre vivo em hotéis e como nos restaurantes. Quando se é um velho solitário como eu, dá medo viver em uma casa vazia. Pelo menos nos hotéis há um bar e é possível conversar com alguém", reflete.
No Egito, dizem que Sharif se arruinou com o que foi sua grande paixão na vida - inclusive mais do que as mulheres -: o bridge, mas isso não parece totalmente certo visto o estilo de vida que possui.
Nascido de pais católicos libaneses - seu nome de batismo era Michel -, Sharif se converteu ao Islã para casar-se com a atriz Faten Hamama, de quem depois se divorciou. Agora, diz que, para ele, "a religião é uma coisa absurda".
"Como podem nos fazer acreditar em algo tão ridículo como Adão e Eva?", pergunta.
O ator sempre se pronunciou contra o fanatismo que está ganhando peso no Egito e em todo o Oriente Médio; entretanto, para ele este "não é um problema religioso, mas de pobreza".
"Se todo o dinheiro que (o presidente americano) George W. Bush gastou na Guerra do Iraque tivesse sido dado aos pobres desta região, não haveria terrorismo", afirmou.
Omar Sharif acha que o cinema atual "está cheio de violência, porque a própria vida está cheia de violência".
"Quando as pessoas não se matam pela religião, são mortas pelo clima, pelo tsunami ou por inundações. Este mundo é uma m...", conclui o ator. EFE
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12/05/18-12/07»
Fonte: Globo
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