sábado, 30 de dezembro de 2017

EL NECIO

CANÇÕES 2017 (as minhas) - XIV
Silvio Rodriguez - El Necio
Vídeo http://bit.ly/2DyScgR

BASTIDORES DE UM HINO, DE UMA CANÇÃO ÉPICA

Há uma década, numa entrevista na Radio Nacional de Venezuela, Silvio Rodríguez contou a história de "El Necio", uma música publicada em 1992, num disco intitulado simplesmente Silvio, onde o trovador evoca o líder da Revolução Cubana, a quem ele chamou de "professor de humanismo".

"Quando eu escrevi 'El Necio', eu estava a pensar em Fidel e, até certo ponto, em mim", começa a história Silvio Rodríguez.

"O que me levou a escrever", disse o músico ", foi a atmosfera ideológica do final dos anos 80, no início dos anos 90, o colapso do campo socialista. Já se vivia a glasnost na União Soviética e já se conseguia prever um final catastrófico. Havia vários jornalistas em Havana que me perguntavam por que motivo eu não dizia nada sobre assunto. E eu pensei, continuo a pensar e sempre pensarei o mesmo, que eu não tenho a obrigação de dizer sempre algo sobre a actualidade. Esse não é o meu trabalho. Porque às vezes, não tenho nada a dizer, outras vezes o processo de criação ainda se está desenvolver. Enquanto isso não acontecer não devo fazer nada, nem forçar as coisas, para dizer algo acertado ou até conseguir uma boa música".

De acordo com o trovador cubano, "mais vale estar calado do que dizer disparates. E no caso da música ainda mais se justifica."

Além desta circunstância, houve um caso que o empurrou para a criação desta música. Quando o autor de "Playa Girón" estava em trânsito de Miami para Porto Rico, partiram-lhe a guitarra no aeroporto de Miami.

"Partiram-me a guitarra. Foram cubanos que trabalhavam no aeroporto que saltaram para cima dela", disse o músico. "A culpa foi minha, acredito, porque eu tinha um autocolante de Fidel e uma bandeira cubana, e eu não quis retirá-los. Digamos que eu pus-me a jeito. Quando cheguei a Porto Rico, ouvi na rádio um programa de Miami, onde eles disseram que a contra-revolução estava muito fraca, porque os revolucionários “fulano”, “beltrano” e entre eles eu, tinham passado por Miami e ninguém fez nada. Noutros tempos, ter-nos-iam arrastado pela estrada, e connosco limpado as ruas."

"Eu tinha notícias de que às vezes havia manifestações agressivas e violentas, eu tinha lido e disseram-me; Mas nunca tinha sofrido na pele uma ameaça pública desta magnitude", disse Silvio. "Como é que alguém pode alimentar tanto ódio sobre canções que nunca falam de ódio?"

"Isso marcou-me", disse o músico.

"A canção não se materializou naquele momento mas, estava iminente. Os engenhos da mente humana, o "período especial" vivido pela ilha devido ao colapso da União Soviética a incerteza do processo cubano num contexto global - onde parecia que o capitalismo tinha ganho - a ainda os acontecimentos de Miami, uniram-se e criaram a química necessária para fazer 'El Necio'", acrescentou.

A letra desta canção está cheia de detalhes e possibilidades. Por exemplo:
(...) «yo quiero rezar a fondo un hijo nuestro» (...) «Eu quero rezar a fundo um FILHO NOSSO"» é uma espécie de louvor ao que o homem alcançou - a revolução, talvez - e um convite para que não se pare; em contraste com o PAI NOSSO, uma oração que de certo modo atribui a Deus a determinação da vida do Homem. Portanto, a pretensa oração "FILHO NOSSO" atribuirá ao FILHO (ao Homem) a determinação da sua própria vida. Esta é uma canção de louvor à autodeterminação da vida.

Notas:
1. Último parágrafo é uma reflexão de alguém com este nome ou pseudónimo: Tomasyano H.S.
2. Este post é composto em grande medida por uma "espécie" ;) de tradução minha a um artigo (El Desconcierto/La Tercera) que relata uma entrevista dada por Silvio Rodriguez à Rádio Nacional Venezuelana, a qual toca na sua motivação para compor a canção "El Necio".

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