segunda-feira, 21 de julho de 2014

BES

«BES
Espero bem que não, mas se o caso BES terminar da pior maneira, o País pagará um preço astronómico por um momento de lucidez coletiva. Perceberemos, como num teatro de marionetas, que as cenas públicas da luta partidária são apenas a cortina fútil que esconde as lutas reais, travadas em recato, onde se decide o destino coletivo.
Perceberemos que o eventual colapso da constelação em cascata do "banco do regime", com os danos colaterais que ainda estão muito longe de um elenco exaustivo, não estará provavelmente em condições de ser resgatado, pelo menos no interior das regras do jogo europeu, que permitiram a duzentos bancos (de um total de seis mil) tomarem como reféns mais de quinhentos milhões de cidadãos da UE. Não tenhamos ilusões: o que se passa em Portugal é apenas um episódio menor de um sistema cheio de minas e alçapões. A "união bancária" em fabricação é um mero simulacro: esconde aquilo que deveria enfrentar. A zona euro (ZE) transformou-se no paraíso do financismo mais puro e irrestrito. Nela, as ideias extremas do neoliberalismo impuseram-se sem qualquer barreira (os EUA tiveram em sua defesa um sólido e historicamente enraizado federalismo). A ZE realizou a utopia temerária de F. Hayek: retirar o Estado da esfera monetária. O euro é hoje um Moloch perante o qual os povos se vergam em sacrifício. Entregues a si próprios, com a cumplicidade de quem os deveria regular, os "banqueiros anarquistas" destroem os próprios fundamentos do capitalismo. Se a implosão da Europa não puder ser evitada, quem lhe sobreviver terá de reconstruir uma economia de mercado, sabendo, contudo, que o dinheiro é um assunto demasiado sério para ser um negócio de aventureiros.» VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

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