26 multimilionários têm tanto dinheiro como metade da população mundial
Relatório da Oxfam mostra que o fosso entre ricos e pobres se agravou como nunca: o número de multimilionários que têm tanto dinheiro como metade da população mundial tem vindo a descer de forma acentuada - em 2017 eram 43 e em 2016 eram 61.
Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Não é uma frase nova, mas é mais verdadeira do que nunca, como mostra o último relatório da Oxfam, a associação não-governamental que todos os anos marca o arranque da cimeira de Davos com uma radiografia à riqueza mundial. E a conclusão a que se chega este ano é que os 26 multimilionários mais ricos do mundo têm tanto dinheiro como 3,8 mil milhões de pessoas, ou seja, metade da população do planeta.
Vamos aos números apresentados pela Oxfam para comprovar que o fosso entre ricos e pobres está a aumentar: em 2018, a fortuna acumulada de cerca de 2200 multimilionários aumentou 2,5 mil milhões de euros por dia, num total de 900 mil milhões de euros. É quase um bilião de euros, um milhão de milhões, um número com doze zeros. Para dar ainda uma outra noção desta realidade: o número de milionários que têm tanto dinheiro como metade da população mundial tem vindo a descer de forma acentuada - em 2017 eram 43 e em 2016 eram 61. Ou seja, no espaço de apenas dois anos esse número passou para menos de metade.
Entre 2017 e 2018, acrescenta o estudo Public Good or Private Wealth? ("Bem público ou riqueza privada", numa tradução literal), surgiu um novo milionário a cada dois dias, enquanto metade da população do planeta viu os seus recursos diminuírem 11%. Na última década, desde a crise financeira global, o número de multimilionários quase que duplicou.
Bastava 1% da riqueza de Jeff Bezos para igualar o orçamento da Saúde da Etiópia
Vamos a outro exemplo prático: Jeff Bezos, o dono da Amazon e homem mais rico do mundo, tornou-se o primeiro a ultrapassar a barreira dos 100 mil milhões de dólares de fortuna pessoal (88 mil milhões de euros), liderando a tabela da Forbes, com 112 mil milhões de dólares (perto de 100 mil milhões de euros). Bastava 1% da sua riqueza para igualar o orçamento da Saúde da Etiópia, um país com mais de 100 milhões de pessoas. Se olharmos para Portugal, bastava qualquer coisa como 10% da fortuna de Bezzos para financiar o Serviço Nacional de Saúde, que este ano tem um orçamento que se aproxima dos 11 mil milhões de euros. Uma fortuna que daria também para pagar todo o empréstimo da 'troika' (que foi de 78 mil milhões de euros) e financiar quase todo o Programa 2020, um total de 25 mil milhões de euros de fundos europeus que entram em Portugal até ao próximo ano.
Taxas sobre os mais ricos e grandes empresas
O que este relatório indica, na opinião da diretora executiva da Oxfam, "é que o fosso entre os ricos e os pobres está a minar a luta contra a pobreza, atingindo as nossas economias e fazendo crescer a fúria das populações por todo o mundo". A ugandesa Winnie Byanyima critica os governos nacionais, por um lado, por "exacerbarem as desigualdades ao subfinanciarem os serviços públicos, como a Educação e a Saúde, enquanto, por outro lado, não taxam devidamente as grandes empresas e os mais ricos".
"O tamanho da conta bancária não devia determinar quantos anos uma criança passa na escola ou quantos anos se vive"
As mulheres - adultas ou crianças - são as mais atingidas pela pobreza, com milhões de meninas impedidas de ter uma educação digna - porque as raparigas são as primeiras a serem tiradas da escola quando o dinheiro não chega para pagar os estudos - e mulheres que morrem por falta de cuidados maternos.
"O tamanho da conta bancária não devia determinar quantos anos uma criança passa na escola ou quantos anos se vive - no entanto essa é a realidade em demasiados países", argumenta a diretora da Oxfam, que avança desde logo com uma medida simples para mitigar estes problemas: fazer com que 1% dos mais ricos paguem um imposto extra de 0,5% sobre as suas riquezas permitiria uma receita superior aos custos de educação com 262 milhões de crianças ou dar cuidados de saúde que podiam salvar a vida de 3,3 milhões de pessoas. Isto porque aquilo a que se tem assistido vai em sentido contrário e muitos países têm cortado nos impostos sobre as fortunas e as grandes companhias, aponta a ONG. E se essa taxa passasse para 1%, permitiria arrecadar qualquer coisa como 368 mil milhões de euros por ano, o suficiente para dar educação a todas as crianças que não estão atualmente na escola.
Num texto de introdução ao estudo, publicado na sua página online, a Oxfam ataca não só o "subfinanciamento crónico" de setores com a Saúde e a Educação em muitos países, mas também a entrega da gestão de serviços públicos a privados, críticas que podiam encaixar no debate político em Portugal, à esquerda e à direita, nos últimos anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário