segunda-feira, 25 de maio de 2020

FERREIRA DE CASTRO

José Maria Ferreira de Castro, jornalista e escritor, nasceu em Ossela, Oliveira de Azeméis, a 24 de Maio de 1898 e faleceu no Porto a 29 de Junho de 1974, com 76 anos. Apenas um ano antes de a UNESCO anunciar que «A Selva» estava entre os dez romances mais lidos em todo o mundo.

Oriundo de uma família de camponeses pobres, ficou órfão de pai aos oito anos e emigrou, em 1911, com doze anos e a instrução primária, para o Brasil. Por algumas semanas trabalhou em Belém do Pará, mas não tardou a ser expedido para o interior da selva amazónica. Permaneceu ali quase quatro anos, tempo em que escreveu contos e crónicas que enviou para jornais do Brasil e de Portugal. Com 14 anos redigiu Criminoso por Ambição, o seu primeiro romance que, mais tarde, aquando do seu regresso a Belém do Pará, em 1916, publicou em fascículos e vendeu de porta em porta. Lançou-se igualmente no jornalismo, colaborando assiduamente em jornais e revistas do Brasil.

Já senhor de grande fama no jornalismo brasileiro, decidiu, após o intenso contacto com os seus compatriotas de lhe ter feito renascer as saudades da pátria, regressou a Portugal em 1919 com apenas quatrocentos escudos no bolso. O êxito obtido no Pará é, contudo, totalmente ignorado em Portugal. Vive períodos de absoluta miséria e passou dias inteiros sem comer quando reiniciou a sua dupla faina de repórter e escritor. Em 1934, decidiu abandonar o jornalismo, devido à censura prévia nos tempos difíceis da ditadura. Mais tarde afirmaria que «(...) a censura tem, porém, uma virtude: é demonstrar quanto vale ser um homem livre, um povo livre!» (in Mensagem, 1946).

Publicou, em 1928, o romance «Emigrantes» e «A Selva» em 1930, acompanhados de estrondoso êxito nacional. Sobre estes livros, o crítico literário Álvaro Salema, em artigo publicado no jornal O Comércio do Porto, de 12 de Maio de 1953, afirmou: «A publicação de "Emigrantes", em 1928, fixou uma data na história literária portuguesa, que é também um ponto de partida decisivo. (...) Ferreira de Castro desvendou com "Emigrantes" e logo a seguir com "A Selva" um novo roteiro para a criação literária no romance, na novela e no conto (...)».

Seguir-se-á, a um ritmo regular, a publicação de outros romances: «Eternidade» (1933), «Terra Fria» (1934), «A Tempestade» (1940), «A Lã e a Neve» (1947). No período imediato ao pós-guerra, Ferreira de Castro tornou-se um dos autores mais lidos em Portugal e no estrangeiro - onde a literatura portuguesa pouca expressão tinha. As suas obras estão editadas com sucesso em mais de dez línguas (em França é traduzido por Blaise Cendars) e, com a 10.ª edição de «A Selva», atinge a fasquia de meio milhão de exemplares vendidos em todo o mundo com um só livro.

Durante este mesmo período, Jaime Brasil publica o opúsculo Os Novos Escritores e o Movimento Chamado «Neo-Realismo», reivindicando para Ferreira de Castro a condição de iniciador — e não apenas precursor — do realismo social na literatura.

A fama e o reconhecimento do autor não mais cessaram de crescer. Em 1949, a sua editora, a Guimarães, iniciou a publicação das Obras Completas do autor, ilustradas por nomes como os de Júlio Pomar, Keil do Amaral, Sarah Affonso, Artur Bual, João Abel Manta, entre outros.

Nos anos cinquenta publicou, entre outros, os romances «A Curva da Estrada» (1950), «A Missão» (1954) e «O Instinto Supremo» (1968).

Ferreira de Castro foi, por diversas vezes, proposto para o Prémio Nobel e, por outras, recusou sê-lo, em detrimento de outros escritores portugueses.

Consagrado como uma das maiores figuras da literatura portuguesa, sobre ele escreveu Óscar Lopes: «foi o primeiro grande romancista português deste século que se determinou por problemas objectivos e não apenas por impulsos íntimos».

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