segunda-feira, 25 de maio de 2020

FINLÂNDIA 1942

«Carélia, na Finlândia, finais de 1942.
Dois homens na fotografia. Ambos finlandeses. Um nazi e um comunista. Um a preparar-se para matar outro.
A legenda da foto no museu diz que um militar nacionalista finlandês fuzila um finlandês acusado de espionagem para os soviético.
O carrasco pousa para fotografia. O fotografo do regime finlandês, aliado de Hitler, trabalha segundo as ordens da propaganda alemã. Foi chamado para fotografar os fuzilamentos dos resistentes comunistas capturados. “Olhem o que acontece aos comunistas”. Esta era a ideia que a fotografo devia transmitir.
O nazi sabe o que vai fazer e sabe a importância da fotografia. Por isso faz a pose marcial que considera ajustada. Quer que os chefes olhem a fotografia e sintam orgulho no seu trabalho feito com a mais ariana das limpezas.
O resistente comunista também ele sabe o que lhe vai acontecer. E também sabe para que serve a fotografia que lhe querem tirar. É por isso que sorri.
No exacto segundo antes de morrer, o anónimo comunista finlandês sorri para a máquina fotográfica. É este o momento imortalizado.
Não acho que o homem fuzilado, tenha tido noção da total dimensão do seu acto.
Penso que terá sido mais qualquer coisa, como, “os cabrões vão-me matar, mas não fazem propaganda com a minha cara, vou fode-los”. E por isso sorri. Não sabemos se foi assim.
O facto indesmentível, porque fotografado, é que o homem sorri quando se preparam para fuzila-lo. Sorri para morte.
Eu acho que usa o sorriso como um acto de sabotagem.
As fotografias seguintes no arquivo são o homem que sorria a cair com o disparo. Outra com o homem caído na neve e o carrasco a disparar um segundo tiro para confirmar o óbito.
Mas a fotografia que mais impacto tem, é esta que vos mostro. Do gajo a sorrir antes de ser fuzilado.
A fotografia do sorriso, teve arquivada como confidencial até aos anos 80...
Depois da segunda guerra, com o plano Marshall e a ajuda dos americanos à Finlândia, as autoridades competentes acharam que a fotografia tinha algo de subversivo e podia ser usada como propaganda soviética. Por isso esconderam a foto.
Tinham razão, é absolutamente subversiva.
Depois da impulsão foi “desclassificada” a fotografia.
Partilho convosco.
A pensar naqueles que se riem para a câmara enquanto os carrascos fazem pontaria.»
Texto de Hélder Menor sobre esta imagem https://bit.ly/3c2SrS2

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