«Marine Le Pen foi desconvidada a vir a Portugal discursar depois de uma ampla pressão política, mesmo fora da esquerda, que não durou sequer uma semana - arrumámos o assunto e poucos dias. É que fizemos uma revolução de quase dois anos contra uma ditadura de 48 intermináveis anos. O 25 de Abril é ainda - a par gastronomia (e da Expansão, quer se goste ou não) -, o mais forte factor de identidade nacional de Portugal. O meu coração, confesso, fica sempre entre o controlo operário e as alheiras de Mirandela.
Mas fica no ar uma dúvida: estaríamos nós a caminhar para o fim da liberdade de expressão porque não a autorizamos a Le Pen? É uma boa questão. Boa, sedutora. E estúpida. O problema da União Nacional, Partido a que preside Le Pen, não é que acha que a Europa está a sofrer uma invasão do Islão. O problema é que o fascismo implica a união sagrada entre um conjunto de ideias e a violência para as impor. O fascismo nunca foi um problema de ideias - ideias idiotas e estúpidas, mesmo perigosas e loucas, todos os dias têm as pessoas. Sou da chamada tendência contra o politicamente correcto, não suporto polícias da linguagem e a purificação do homem pelas palavras. O fascismo não é isso. É um programa de gestão do Estado que implica a eliminação física e o silenciamento dos adversários e inimigos políticos. Aconselho-vos a ver um filme, Esta Terra é Nossa, filme francês, uma fábula sobre uma líder de extrema-direita em França, que retrata com um cuidado detalhe a ligação entre os partidos de extrema-direita, as suas afces públicas, o ilegal financiamento bancário Suiço, os batalhões clandestinos que fazem cenas de pancadarias nos bairros imigrantes e as redes de segurança privada - numa palavra milícias.
Já vi tipos de esquerda que sabem todas as palavras correctas caluniarem os colegas pelas costas e tipos que contam anedotas de negros estar na linha da frente a defender colegas negros, vi mesmo. O mundo, coisa que a esquerda pós-moderna não compreende, é contraditório. Gosto muito de pessoas imperfeitas, seres padronizados do futuro serão máquinas perfeitas, de trabalho automático, e nem género terão, podem ir todos à mesma casa de banho. Esse mundo é distópico mas está a ser imposto pelo reino da padronização do mundo do trabalho mercantilizado e automatizado, que elimina até as barreiras naturais como a força dos homens e os dedos finos das mulheres - somos todos máquinas, infalíveis, correctas.
A crítica disso - a que se chama hoje em dia politicamente correcto - é uma coisa. Armar gangs para matar opositores, é outra.
Provas? É tudo alegadamente. Eu alegadamente cito a alegoria do filme que explica que a extrema-direita não é uma opinião contrária à nossa, é um esquadrão de morte e eliminação dos inimigos. Mesmo quando à sua frente tem, como em Chez Nous, uma gorducha de cabelo loiro pintado, estilo camponesa sorridente da França autêntica de braços abertos. Que na verdade é morena, feia, ignorante e pertence a uma França viva - a da pequena burguesia em decadência disposta a tudo para manter os seus privilégios.
A nossa casa é, canta o Chico, de quem entra por bem. Na minha pode entrar quem pensa diferente, não pode entrar quem quer eliminar quem pensa diferente.
Agora vou comer umas alheiras e celebrar a minha querida revolução, 44 anos depois ainda tem um vigor extraordinário, um autêntica summit de boa gente o 25 de Abril, pá!»
Por Raquel Varela
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