quinta-feira, 16 de agosto de 2018

UMA HISTÓRIA BELGA

«Nos finais dos anos 70, nasceu, na Flandres, o partido nazi Vlaams Blok (curioso, o Blok, não é? Vlaams significa Flandres e Blok é Bloco), mais tarde obrigado, por lei, a mudar para Belang (no sentido de pertença e mantendo o mesmo VB) por vias da associação de Blok ao ideário nazi e ao sistema prisional nos campos de concentração.
Voltando ao início, de resto auspicioso, do VB pois temos que nas eleições europeias de 1988 ou perto disso (não vou verificar datas, isto vem-me de memória e da ideia que tenho, difusa a partir do que li em livros e revistas ainda nos meus tempos belgas) e portanto nas referidas eleições e creio que nas eleições gerais o VBlok fez a sua entrada de leão: cerca de 13% de votos na Flandres, claro, e nas municipais, Antuérpia amanheceu com quase 30% de votos para o VBlok e a Bélgica acordou para o fenómeno de se amanhar com uma força nazi dentro da sua vidinha liberal.

O sucesso dos nazis continuava e decidiu-se por consenso que o ideal seria criar um cordão sanitário à volta daquele furúnculo que ninguém queria afrontar. Assim foi. Para os media, especialmente os do enclave bruxellois e os francófonos o VBlok/Belang não existia. Contudo e apesar deste cuidado, o partido crescia, ganhava força e nada o impedia de conquistar mais e mais espaço até se provar a inutilidade do voto de silêncio sobre aquelas pessoas, nazis convictos, xenófobos, racistas. O FN de Le Pen em França era um estranho e forçado aliado, mas assim mesmo partido irmão, altamente organizado e com uma máquina propagandística que beneficiava o VBlok/Belang. As diferenças entre os dois partidos são substanciais. 
Ao que interessa, e isto sim é o que importa, o falhanço rotundo do cordão sanitário provou que não se combate com silêncios e inibições uma força instalada cujo ideário é mais complexo que a simplicidade com que vai direito aos corações do eleitorado. 
Creio, não estou certa, que a festarola do Vlaams Blok/Belang acabou em 2014 por dissidências internas e questões de elevadíssima cultura. Brinco, sem brincar. Nem sei se por lei, terão ido à vida.

Certo é que a vinda da Le Pen a Portugal por vias do tão acarinhado WebSummit não me suscita coisa alguma. Estava na cara do evento que valia tudo até tirar olhos. Agora, os organizadores daquela coisa em formato de coisa entregaram a batata quente a quem tão bem os recebeu. É bem feita? Se é. Eu quero que a Marine Le Pen tenha bebés pelos ouvidos e alguns mais pelo nariz, pobres bebés. Estranha forma de dizer que o alegre Costa que mimou o monstro pois que o ature. Por mim a Le Pen vem e deveria levar com ovos podres, tomates, tudo podre, mas que na trajectória atingisse as fuças do organizador e de quem tanto se divertiu com o evento que "pôs Portugal no mapa". É esta a cena, não é? Se é.»

Por Fátima Rolo Duarte

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