domingo, 26 de agosto de 2018

LUATY BEIRÃO

Por Bruno Carvalho

O mediatismo de Luaty Beirão diz mais de quem o apoia do que dele próprio. Fascina-me sempre que gente que se acha a nata da intelectualidade das ciências sociais e políticas embarque na defesa de um tipo que é uma fraude. Uma nulidade política. Senão vejamos.
Luaty Beirão herdou a fortuna do pai, ex-secretário-geral da Fundação José Eduardo dos Santos, acusado por muitos de enriquecimento ilícito. Caracterizava Angola como uma ditadura e que o governo o perseguia quando a justiça desse mesmo regime acabou por o libertar dentro dos trâmites legais previstos. Depois, apelou ao voto na UNITA, partido de direita fundado pelo sanguinário Jonas Savimbi. De tal forma, que a própria mulher, Mónica Almeida, em entrevista ao Expresso, se distancia do marido nas suas opiniões sobre José Eduardo dos Santos e sobre o MPLA. Nessas mesmas eleições disse que não ia votar para logo depois dizer que João Lourenço está a revolucionar Angola e que há um renovar de esperança com o actual presidente. Ou seja, uma ditadura que se dá ao luxo de libertar Luaty, com um regime que dá a vitória a um candidato que satisfaz o próprio Luaty. O mais fascinante é que há vídeos dele a debater com os seus companheiros opositores sobre o que há-de fazer com o dinheiro que lhes chega dos Estados Unidos. Como disse, o mediatismo do Luaty diz mais sobre quem o defende do que sobre ele próprio mas também diz muito sobre o rapper angolano. Ora vejamos, afinal, por que é que o Expresso e o Observador o carregam em ombros como herói quando nada dizem sobre presos políticos palestinianos, colombianos, bascos, sarauís, etc. Agora, saltemos para a Tinta da China. Bárbara Bulhosa usou o velho truque de pedir a boleia do ódio que a imprensa tem pelo PCP para promover o livro do Luaty e a editora. Nada de especial porque foi um teatrinho sem grande imaginação. Mais hiena do que raposa, na verdade. O PCP não impõe livros do Álvaro Cunhal ao BE ou ao PS. Isso é defender a liberdade. Agora, independentemente de quem seja Luaty Beirão, é verdade que a editora Página a Página, sucessora da Caminho, é a responsável pela Feira do Livro na Festa do Avante e escolhe os livros que entende expôr. Eu nem sempre concordo com os critérios. Por exemplo, eu já vi livros que não gostava de ter visto. Desde Ieltsin à Zita Seabra. Se dizem que este partido censura, fá-lo de forma incompetente. De resto, já se sabe. Os que querem impôr livros ao PCP, dizem-se democratas. Já dos que acham que cada partido deve ter a liberdade de expôr o que bem lhe apetece dizem autoritários.

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