A 18 de Fevereiro de 1978 regressavam a Portugal os restos mortais dos 32 antifascistas portugueses assassinados no Campo de Concentração do Tarrafal, criado pela ditadura fascista portuguesa à imagem e com o mesmo propósito dos campos nazis, o primeiro dos quais, recorde-se, aberto em Dachau, em 1933.
O Tarrafal, situado no Lugar do Chão Bom, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, foi inaugurado a 29 de Outubro de 1936 por 157 presos políticos, muitos participantes nas revoltas da Marinha Grande (18 de Janeiro de 1934) e dos Marinheiros (8 de Setembro de 1936).
Muitos, antes da deportação, foram torturados nos curros do Aljube e em Peniche, onde as casa-matas, geladas como nos pólos, eram locais tenebrosos de castigo. Todos fizeram escala na Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo, nos Açores, com a sua famigerada poterna, situada abaixo do nível do mar num ambiente irrespirável de cova para enterrar vivos, e o seu calejão, onde até os cavalos morriam de frio ou pela água putrefacta acumulada.
Pelo Campo da Morte Lenta, cujo director Manuel dos Reis recebia os presos dizendo, com orgulho, «quem vem para o Tarrafal, vem para morrer» - afirmação de resto corroborada pelo «médico» Esmeraldo Pais Prata, que declarava não estar ali «para curar, mas para passar certidões de óbito» -, passaram 340 antifascistas portugueses, sobretudo comunistas.
Entre os 32 assassinados pela fome, os trabalhos forçados, os castigos na «frigideira» (assim chamada por se tratar de um cubículo sob sol tórrido, destinado a «fritar» seres humanos) ou devido à biliosa, estão o então Secretário-geral do PCP, Bento Gonçalves, e o líder da CGT, Mário Castelhano.
Encerrado em 1954, o Campo de Concentração do Tarrafal seria reaberto em Abril de 1961 por ordem do então ministro do Ultramar, Adriano Moreira. Até ao 25 de Abril de 1974, lá foram encarcerados, sujeitos à tortura e aos maus-tratos, 226 independentistas africanos de Angola, Guiné e Cabo Verde. Três acabaram por sucumbir. Muitos passaram pela «holandinha», como foi rebatizada a «frigideira».
A 18 de Fevereiro de 1978, 200 mil pessoas acompanharam o cortejo dos restos mortais dos portugueses assassinados no Campo de Concentração do Tarrafal. Mas não foi uma cerimónia fúnebre. Nela estiveram comunistas, anarquistas, socialistas, republicanos, a celebrar a vida daqueles que deram a vida na luta antifascista, os mártires que temos o dever de não esquecer e honrar enquanto «o ventre que pariu a besta imunda é ainda fecundo».
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