sexta-feira, 23 de abril de 2021

LÉNINE

Vládimir Ilitch Uliánov - LÉNINE

Vladímir Ilitch Uliánov (Lénine) nasceu em 22 de Abril de 1870, na pequena cidade de Simbirsk, situada no Sul da Rússia, designada Uliánovsk em 1924, em memória do líder falecido, nome que ainda hoje conserva. Faleceu no dia 21 de Janeiro de 1924, na aldeia de Górki, nos arredores de Moscovo, quando não tinha ainda completado 54 anos.

Vladímir Ilitch Lénine destacou-se no seu tempo como um grande intelectual, filósofo, economista, político, publicista, orador, legando-nos uma extensa e valiosíssima obra com 55 volumosos tomos.

Mas na memória dos povos ficará para sempre como o líder do proletariado mundial, o criador do partido bolchevique, o organizador da primeira revolução socialista vitoriosa e o fundador do primeiro Estado socialista – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Na data em que se assinalam os 144 anos do seu nascimento, as ideias de Lénine, os seus ensinamentos, o seu exemplo prático, que influenciaram decisivamente o curso do século XX, continuam a inspirar as novas gerações de explorados que, em todo o mundo, buscam o caminho da libertação, o caminho para uma sociedade caminho da libertação, o caminho para uma sociedade nova, socialista.

Do mesmo modo que os grandes problemas do seu tempo se colocam hoje com a máxima acuidade, também o nome, o pensamento, a via de transformação revolucionária desbravada por Lénine permanecem no centro da intensa batalha ideológica, que opõe explorados a exploradores, e são alvos prioritários da campanha da burguesia que em vão procura apagar esta figura maior da história da humanidade, retaliando com ferocidade à mínima evocação do teórico genial e gigante revolucionário.

Quando jovem, foi através do seu irmão que Vladímir teve o primeiro contacto com a literatura marxista, recebendo também dele um exemplo de luta revolucionária contra a autocracia, pela melhoria das condições de vida do povo, apesar de cedo se ter apercebido das concepções e métodos de luta erróneos do populismo, corrente ideológica que predominava no movimento revolucionário russo.

O jovem Uliánov depois de terminar o liceu com medalha de ouro, ingressa na Faculdade de Direito de Kazan, da qual se vê expulso logo em Dezembro pela participação numa revolta estudantil. Após quase um ano de deportação na aldeia de Kokuchkino sob vigilância policial, Lénine regressa a Kazan e adere a um dos primeiros círculos marxistas da Rússia.

Em 1889 muda-se com a família para Samara, onde traduz o Manifesto do Partido Comunista e consegue, em apenas ano e meio, estudar autonomamente todo o programa do seu curso. Presta provas como aluno externo em 1891 e obtém o diploma de 1.º Grau, correspondente ao título de mestre em Direito.

Exerce advocacia em Samara e torna-se conhecido como defensor dos camponeses pobres. Entretanto forma um círculo marxista que desenvolve actividade de propaganda, escreve o seu primeiro trabalho científico sobre o campesinato, demonstra a inconsistência das teorias populistas liberais, o seu utopismo e desconformidade com a realidade russa, que mais tarde desenvolve no seu livro Quem são os “Amigos do Povo” e Como Lutam contra os Sociais-Democratas (1894).

Em Dezembro de 1895, juntamente com vários membros da União de Luta, Lénine é preso. Na cela onde permanece isolado durante 14 meses, continua a escrever conseguindo fazer passar documentos e orientações para o exterior. Seguem-se três anos de deportação na Sibéria Oriental, onde casa com Nadejda Konstantínovna Krúpskaia, em 1898, igualmente deportada como membro da União de Luta.

Em Março desse ano, várias «uniões de luta», criadas em toda a Rússia segundo o exemplo dos marxistas de Petersburgo, reúnem-se em Minsk naquele que ficou para a história como o I Congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR).

É ainda no exílio, na aldeia de Chúchenskoi, na Sibéria Oriental, que Lénine concebe o plano de criação do novo jornal político, como «ponto de partida para a acção», essencial para clarificar os objectivos e as tarefas do partido e fazer a demarcação ideológica dos «economistas». «Antes da unificação e para a unificação é preciso primeiro uma demarcação decidida e definida», escreveu na «Declaração da Redacção do Iskra».

Nas páginas do Iskra e sobretudo no seu livro Que Fazer? (1902), Lénine atacou o «economismo», notando que limitar os objectivos da classe operária à luta económica contra os patrões e o governo significava condenar os operários à eterna escravidão. «A luta contra o governo por reivindicações parciais e a conquista de concessões isoladas são apenas pequenas escaramuças com o inimigo».

Em Julho de 1903, o II Congresso do POSDR dá um passo decisivo para a fundação de facto do partido, aprovando o programa e os estatutos propostos por Lénine. A maioria aprova igualmente as suas propostas de constituição do Comité Central e da Redacção do Iskra, mas nos intensos debates revelam-se claramente duas tendências: os leninistas, que por serem maioritários passam a ser chamados bolcheviques, e os oportunistas minoritários, mencheviques, liderados por Mártov, Trótski e Axelrod.

A luta interna não tardou a agudizar-se. Com a ajuda de Plekhánov que passou a apoiar os mencheviques, estes tomam a redacção do Iskra desrespeitando as decisões do congresso, o que motiva a saída de Lénine e a denúncia pública do comportamento dos fraccionistas no seu livro Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás (1904).

Depois de perder o Iskra, Lénine ficou também em minoria no Comité Central devido à traição de Plekhánov e de dois outros bolcheviques. Nas vésperas da primeira revolução russa, o partido estava dividido, era urgente mobilizar as organizações de base para convocar um novo congresso.

Foi novamente em Londres, em Abril de 1905, que decorreu o III Congresso do POSDR, no qual os mencheviques se recusaram a participar, organizando em Genebra uma conferência paralela. «Dois congressos, dois partidos», disse Lénine a propósito da cisão praticamente consumada.

Com uma situação revolucionária em pleno desenvolvimento na Rússia, Lénine analisa a revolução democrático-burguesa na sua célebre brochura Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática, editada dois meses após o congresso, onde considera que o proletariado não pode colocar-se à margem mas, pelo contrário, deve «participar nela do modo mais enérgico, lutar do modo mais decisivo pela democracia proletária consequente, para levar até ao fim a revolução».

É também neste trabalho que Lénine desenvolve a teoria da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista, como um processo único, permanente, que só poderá realizar-se se o proletariado assumir a sua direcção, em aliança com o campesinato, e instaurar «a ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato».

No Outono de 1905, a revolução caminhava para o seu auge. Rebentam as greves políticas, uma nova forma de luta do proletariado nunca antes vista noutros países, que visava claramente o derrubamento do tsarismo e a implantação da república democrática. Surgem os primeiros sovietes de deputados operários que tomam decisões revolucionárias.

Começa um período de violenta repressão, mas os operários e camponeses continuam a resistir durante 1906 e 1907, organizando greves e revoltas no campo.

A correlação de forças obriga o tsar a convocar uma Duma legislativa, que os bolcheviques boicotam, como já tinham feito com a Duma consultiva. Lénine considera o primeiro boicote justo, o segundo como um erro, dada a alteração da situação, o declínio da revolução e a necessidade de um recuo.

Por isso, quando o tsar convocou uma nova Duma no Verão de 1906, os bolcheviques decidiram participar nas eleições para utilizarem aquele órgão como tribuna da revolução. «Inteligente não é aquele que não comete erros. Não há nem pode haver tais pessoas. É inteligente quem comete erros não muito essenciais e quem sabe corrigi-los fácil e rapidamente».

Mas a II Duma foi dissolvida logo em Junho de 1907 pelo tsar, que mandou prender 65 deputados sociais-democratas e os deportou para a Sibéria. Começaram os duros anos da reacção dos governos de Stolípine. Para evitar a prisão, Lénine sai do país e exila-se na Suíça.

Mais tarde escreveria: «Sem um “ensaio geral” como o de 1905, a revolução de 1917, tanto a burguesa de Fevereiro como a proletária de Outubro, teriam sido impossíveis».

Em Janeiro de 1912, na Conferência de Praga, os bolcheviques rompem definitivamente com os mencheviques, decidindo expulsá-los das suas fileiras e refundar o partido, que mantém a denominação de Partido Operário Social-Democrata da Rússia acrescentada da palavra «bolchevique» entre parênteses.

Nessa altura, Lénine escreve a Górki: «Finalmente conseguimos – apesar da canalha liquidacionista – fazer renascer o partido e seu Comité Central. Espero que com isto se alegre connosco.»

Lénine regressa a Petrogrado em 3 (16) de Abril, após um exílio de quase dez anos. Consigo traz as «Teses de Abril», que apresenta no dia seguinte, onde estabelece o plano para a transformação da revolução burguesa em revolução socialista, pela instauração não de uma república parlamentar mas de uma «república dos sovietes de deputados, operários, assalariados agrícolas e camponeses em todo o país, desde baixo até acima». Quanto ao governo burguês, Lénine foi lapidar: «Nenhum apoio ao Governo Provisório».

No dia 3 (16) de Julho, centenas de milhares de manifestantes exigem o fim da guerra e a passagem de todo o poder aos sovietes. O governo responde com repressão e afoga em sangue a manifestação pacífica. Nestes «acontecimentos de Julho», a burguesia amparada pelos mencheviques e socialistas-revolucionários tenta decapitar a revolução atacando o partido bolchevique.

Com base numa acusação fabricada, é emitido um mandado de captura contra Lénine. Vários dirigentes bolcheviques são presos, os seus jornais são encerrados.

A dualidade de poderes termina com a passagem de todo o poder dos sovietes para o Governo Provisório.

Os bolcheviques entram na clandestinidade. Lénine refugia-se na Finlândia, onde escreve, entre Agosto e Setembro, a brochura O Estado e a Revolução, na qual explica a necessidade de destruir o aparelho de Estado burguês.

Entre 12 e 14 de Setembro, Lénine escreve duas cartas ao CC, em que considera que «os bolcheviques devem tomar o poder», notando que «a maioria do povo está por nós».

No dia 7 de Outubro, regressa clandestinamente a Petrogrado. Três dias depois o Comité Central toma a histórica decisão de tomar o poder. Nada será capaz de impedir a vitória da insurreição de 25 de Outubro (7 de Novembro). Lénine comanda as operações a partir do Smólni e torna-se o chefe do governo do primeiro Estado socialista do mundo.

Logo à sua chegada à Rússia, em 1917, Lénine colocou nas «Teses de Abril» como tarefa do partido, a constituição de uma «Internacional revolucionária» liberta do oportunismo.

Já em 1914, Lénine escrevera: «A II Internacional morreu, vencida pelo oportunismo. Abaixo o oportunismo e viva a III Internacional limpa (…) do oportunismo!».

O proletariado de vários continentes unia-se crescentemente sob a bandeira do leninismo, o que tornou a Internacional Comunista uma realidade ainda antes do seu congresso fundador, que decorreu em Moscovo, entre 2 e 6 de Março de 1919, e aprovou um manifesto apelando à luta pela ditadura do proletariado e pela vitória dos sovietes em todos os países.

Gravemente debilitado pela doença que o atingiu em 1922 – quando ainda sofria as sequelas do atentado de que fora vítima em 1918, organizado pelos socialistasrevolucionários – Lénine continua a trabalhar, contribuindo com uma série de importantes artigos sobre a organização do aparelho do Estado e do partido, a questão das nacionalidades e construção da sociedade e da economia socialista, apontando a cooperação como «o caminho mais simples, fácil e acessível para o camponês».

Padecendo de aterosclerose cerebral, Lénine sofreu o primeiro enfarte em 5 de Maio de 1922, do qual recupera retomando a actividade. Em Novembro desse ano, fazendo o balanço dos cinco anos do poder soviético, assinalou os esforços para que «a Rússia da NEP se torne a Rússia Socialista».27 Esta seria a sua última intervenção em público.

Em Dezembro, a doença faz nova arremetida, seguindo-se uma terceira, em 9 de Março de 1923, da qual o líder já não se recompõe.

No dia 21 de Janeiro de 1924, na aldeia de Górki, nos arredores de Moscovo, falece Vladímir Ilitch Lénine, quando não tinha ainda completado 54 anos. A sua morte é recebida com profunda dor pelos trabalhadores do mundo inteiro. No dia do funeral, o proletariado internacional declarou uma paragem de cinco minutos no trabalho.

Na URSS, a circulação ferroviária é interrompida, fábricas e empresas suspendem a laboração, milhões choram o desaparecimento do líder, prestando homenagem ao fundador do partido bolchevique e principal obreiro da revolução socialista que abriu portas à construção da sociedade nova sem exploradores nem explorados.

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