«Yuri Andropov: solitário severo ou reformador?
Há 100 anos nasceu Yuri Andropov, um dos mais misteriosos dirigentes da União Soviética. Como era na realidade – um eremita severo que não ousava ultrapassar o quadro da disciplina partidária ou um reformador que tentava impulsionar o mecanismo obsoleto da máquina soviética?
Até agora não existe uma opinião unânime sobre a personalidade de Yuri Andropov. Até hoje ele fica na memória como grande intelectual que entendia bem todos os detalhes da política internacional e ainda melhor a tecedura de intrigas no Kremlin. Em opinião de outros era uma pessoa indecisa e cautelosa e, ao mesmo tempo, um dirigente severo e bastante competente. Mas é confirmado por muitas pessoas que Yuri Andropov era capaz de juntar em torno de si uma coletividade de profissionais em qualquer estrutura que dirigia. Assim aconteceu no KGB que Andropov transformou em um dos serviços de inteligência mais fortes no mundo, assim aconteceu no Comitê Central onde ele encabeçava a seção para contatos com países socialistas, disse à Voz da Rússia o politólogo Alexander Tsipko:
“Andropov se caraterizava pela dureza, lealdade e pontualidade. Ele nunca se destacava de outros. Sua única particularidade consistia em que sabia reunir em torno de si pessoas inteligentes e talentosas. Andopov foi o primeiro a formar no Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética um grupo de consultores orientando-se pelas capacidades intelectuais, experiência e conhecimentos de pessoas e não pelo seu lugar na hierarquia partidária. Faziam parte do grupo Arbatov (Gueorgui Arbatov, historiador soviético e russo), Bovin (Alexander Bovin, observador e diplomara soviético e russo) e muitas outras pessoas conhecidas. Formou-se uma elite intelectual dentro Comitê Central e isso foi um mérito de Andropov”.
No entanto, a principal caraterística de Andropov era a cautela que dominava tanto seus contatos com colegas, levando à falta de amigos próximos, como a tomada de decisões, inclusive a nível estatal, e mesmo os tempos livres, aponta Leonid Mlechin, apresentador televisivo, publicista e autor de muitos ciclos históricos:
“É conhecida uma história quando Andropov fazia parte de uma delegação na Iugoslávia que embora fosse uma republica socialista, mas um pouco mais livre que a União Soviética. A segunda pessoa do partido convidou todos para visitar um espetáculo de striptease. A maior parte da delegação aceitou o convite, porque nem imaginava o que era. Mas Andropov recusou, porque sempre entendia o que se podia fazer e o que não se podia. Neste sentido era uma pessoa muito cautelosa”.
Um dos fatores que poderia influenciar a mundividência de Andropov foi a rebelião na Hungria em 1956. Naquela altura, ele era o embaixador da URSS em Budapeste e viu com os seus próprios olhos como pode abalar o regime socialista em que, por descuido das autoridades, havia crescido uma semente de aspiração à liberdade, acrescentou Leonid Mlechin:
“Entendeu uma coisa simples: o sistema socialista pode existir só nas condições mais duras. Logo que desapareça o medo, seja abolida a censura e introduzida a liberdade de discussões, o sistema irá ruir. Por isso, trabalhando no KGB, Andropov envidou todos os esforços para garantir o controle ideológico”.
Possivelmente, Andropov tornou-se cauteloso ainda muito mais cedo, quando estudava numa escola de pesca em Rybinsk. Segundo suas próprias recordações, o mestre de uma embarcação pesqueira, em que Andropov navegava pelo Volga, disse-lhe uma vez: “A vida, Yuri, é uma coberta molhada, pela qual se deve andar sem pressa para não escorregar, escolhendo cada vez um lugar para o próximo passo”. Ao que tudo indica, este conselho ficou gravado na memória do futuro secretário-geral para toda a vida.»
Fonte: Rádio Voz da Rússia
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