«O meu amor clandestino. Histórias de liberdade
24 Abril 2015
Conheceram-se na ilegalidade, ou antes dela, mas por amor ultrapassaram anos de clandestinidade. O Observador conta histórias de comunistas que cederam a identidade, os filhos e o amor a uma causa.
Margarida casou com Carlos, que era Viriato. Às vezes Aníbal. Não era Margarida, era Leonor. Antes de ser Marta, tinha casado com José, que foi Fausto e tal como no poema de Goethe era apaixonado por Gretchen, Margarida. Ele foi José Augusto no dia da morte, assassinado pela PIDE, com a identidade forjada pela mulher no bolso. Depois, Margarida, que foi Teresa, enviuvou e esteve nove anos sozinha. Foi Marta, amiga de Cunhal em Moscovo, e virou Leonor para se juntar a Carlos, ora Viriato ora Aníbal. Não voltou a ser Margarida senão depois do 25 de abril.
Esta é uma história de identidades. Falsas para fora e verdadeiras e com significado para dentro. É a história de três romances e uma mulher. Um romance legal que terminou na clandestinidade, um legal que virou clandestino, outro clandestino que só virou legal depois do 25 de abril. Margarida Tengarrinha de seu nome teve uma vida cheia, interessante. Teve três companheiros – chama-lhes assim para não lhes chamar maridos, nem camaradas – ao longo de 86 anos que já leva de vida.
O primeiro, um arquiteto, com quem esteve casada seis meses, foi amor de adolescência que sucumbiria nos olhos de um comunista, acabado de sair da prisão. Margarida, comprometida quase a casar, olhou para aquele homem de lenço vermelho ao pescoço e de livros debaixo do braço, recebido nas Belas-Artes como herói depois de uma prisão política, e apaixonou-se. Ele. José Dias Coelho, já comunista de gema, ela membro do MUD (Movimento de Unidade Democrática) Juvenil, que bradaria contra a guerra e contra o lançamento de bombas atómicas pelos Estados Unidos e escreveria murais a dizer “Queremos paz!”. A alma de Margarida era agitada demais para um casamento sossegado, burguês e sem luta. Tentou anular o primeiro casamento para se unir a José Dias Coelho. Só o conseguiu quando ambos, já a viver juntos, estavam na ilegalidade.»
Fonte, Observador
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