sábado, 15 de agosto de 2015

NOVOS CONTINENTES

«Novos continentes
Existem! Neste planeta! São aglomerados de lixo de todos os tipos e formas. 80 por cento de proveniência terrestre. Têm portanto, uma génese distinta dos restantes continentes pois, nasceram das mãos de todos nós. Eventualmente das minhas mãos e das suas também!
De todos os que já deixámos voar um papel, que nos esquecemos de uma garrafa de água vazia na praia ou que perdemos do bolso do casaco um pacotinho de pastilhas elásticas! Mas também de todos os que deixam as beatas de cigarro na areia, que enterram o papel do gelado nas redondezas da toalha de praia e que deixam o saquinho das embalagens do piquenique no pinhal. Chuvas e ventos depois, os resíduos encontram um ribeiro, depois um rio que termina no mar! Corrente acima ou corrente abaixo, os resíduos entram nos giros e acabam por se aglomerar! Existem, então, novos continentes no Pacífico e no Atlântico Norte. Também nos outros oceanos começam a formar-se novos continentes mas ainda menores. O maior localiza-se no Pacífico, entre a Califórnia e o norte do Hawai e tem uma dimensão superficial superior à India. Estes novos continentes são predadores vorazes e insaciáveis pois, matam a qualquer minuto. Enredam, aprisionam, enjaulam e escondem vidas que, acidentalmente por lá passem! Desde pequenos peixes a tartarugas mas também grandes cetáceos. E assim, os novos continentes, vão crescendo! Uma mixórdia flutuante de resíduos e cadáveres. O Sol vai ressequindo e fraccionando os resíduos em pedacinhos que podem ser inadvertidamente consumidos por outros pequenos peixes, outras tartarugas e outros grandes cetáceos, esses, ainda livres no reino do azul. Corrente acima ou corrente abaixo, a mixórdia viaja e pode acabar na crista de uma qualquer onda de um qualquer litoral. Como o português! Qualquer passeio à beira mar lhe permitirá identificar lixos de todos os tipos e formas e, se estiver atento, de diversas nacionalidades. Domina o plástico (80%), a invenção do século XX. O cenário é negro. Resolver este problema será muito difícil. Entretanto, uma parcela significativa dos orçamentos locais, é gasta quase sempre sazonalmente na tentativa de remediar o problema, limpando as praias. O cenário fica mais claro, sem dúvida, mas, imediatamente após a época balnear volta o negro!»
Texto de Sofia Edra Quaresma
Fonte, Jornal O Alcoa

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